17 janeiro 2007
A culpa
Não há nada como os blogues para mostrar o que vai na alma das pessoas. Começo a perceber melhor a problemática do lado do Não. O problema principal deles não vem de serem castigadores, ou machistas, ou hipócritas, ou natalistas. Nem é o problema da “vida”. É uma questão muito maior: a culpabilização.
«O que incomoda quem anda a fazer campanha pelo NÃO não é a prática do aborto, apenas a sua legalização. (...) Claro que estas pessoas acham legítimo que se pratique o aborto, o que não acham legítimo é que seja legalizado, que seja socialmente aceite, que deixe de ser feito às escondidas».
Como explica em entrevista Monsenhor Luciano Guerra, reitor do santuário de Fátima: «- É a favor ou contra a penalização? - Sou a favor e não sou a favor. Em princípio, entendo que todo o mal tem uma pena, a começar pela própria família, até para correcção do mal. Mas, às vezes pode haver atenuantes, por exemplo, se houver arrependimento.»
Portanto: «A pílula do dia seguinte. Para um crente, o seu uso consubstancia um pecado, a ser resolvido ou não – segundo a liberdade de cada um – em confissão. (15-1-2007)
« - Um crente que pratica o aborto não pode ser absolvido? - Quem teve uma fraqueza e se arrepender é objecto da misericórdia divina. Mas a Igreja é bastante dura e o Direito Canónico excomunga essa pessoa. A pessoa faz um aborto em plena consciência de que está a fazer um mal.»
Faz o que eu digo, não faças o que eu faço: «Pois eu sou completamente contra o aborto; eu própria até já abortei uma vez, mas vou votar "não".»
É claro que esta frase é incompreensível para aquelas pessoas que julgam que os actos tem que estar de acordo com as convicções: "Nem vale a pena comentar nem a hipocrisia nem a imbecilidade desta posição" (15-1-2007) .
Mas os outros alvitram: «Acaso você nunca excedeu o limite de velocidade na estrada? E que votaria agora num referendo sobre o assunto?» (Comentário no Random Precision)
Para o bom católico, há liberdade na medida em que as pessoas são livres de pecar na sua consciência. Mas as regras morais devem ser estritas, para que aquele que peca se sinta culpado e pague por isso. Para os católicos, as leis servem para dar má consciência. Mas nada impede que se aborte, ou se use preservativo, ou se mate, tudo é igual, mas tudo é perdoável.
«Se «o aborto é uma questão de consciência», como afirmam estes dignitários católicos, algo que pertence ao «campo da liberdade pessoal e da consciência» acrescenta Policarpo, porque razão a Igreja se acha com legitimidade para negar à mulher quer a liberdade pessoal quer o direito à liberdade de consciência?» (in Diário Ateísta)
Eles acham que abortar é errado. Logo, quem o pratica tem de sofrer, na carne, na dificuldade, na maquia que paga, e na culpabilização, para não acharem todos que é muito fácil fazer asneiras. Todos são livres de errar, mas há que sofrer. Para haver arrependimento (e avé-marias).
O que eles querem - já que só a culpa sustém os católicos de fazerem mais asneiras do que já fazem - é que não venham agora os ateus dizer (e legislar) que não há culpa, que não é crime, e lá ficam eles com uma culpa impossível de condenar...
(Imagem sacada do google)
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1 comentário:
Gostava de saber que valores do direito á vida defendem essa padralhada, e crentes "pelo sim pelo não" (leia-se com duplo sentido). Sabiam e ignoráram o holocausto, mataram sob a numância de "Dieux le Veu", Inquisionáram nos trátos-de-pulé pessoas e livros. Pobres enfermeiras que não podiam casar.Vocês andam a pecar todos
os dias, basta a falta de absolvição: não põem lá os pés!!.
Os 10 Mandamentos são a primeira carta constitucional que há memória, e para os outros cristãos è melhor votar sim, evitam de cometer o pecado da mentira.
Já são dois cães que tive que aceitar o abate, mas só me doeu e esse é um assunto impossível de não ser pessoal.
Valores da vida de quem?
Ninguém está a discutir a morte mas a vida das mulheres que reálmente vão usar a consciência e é por isso que o Não é ofensivo.
A bem da Noção
Henrique Pousão
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