13 janeiro 2007

Sim, obrigada



Sim, as pessoas que defendem o Não são como carrascos. Estão prontas a condenar sem conhecer as vítimas, nem saber as causas. São pessoínhas intolerantes, moralistas e castigadoras que acham ainda que podem impôr aos outros/e às outras "valores que em princípio são universais" (como diz um anónimo cobarde no post abaixo citado) - mesmo se não o são para os outros. (Vá-se lá explicar-lhes que por isso mesmo não são universais... É que não entendem.)

Apesar de todas as nuances e combinatórias com que se definem os apoiantes do Sim e do Não e da argumentação ambivalente em torno de questões acessórias - liberar, mas não pagar; abortar não, mas só se; penalizar mas não prender; mais um dia menos um dia; clínicas ou hospitais; juramento de Hipócrates ou hipocrisia, etc. - só há duas opções no boletim de voto.

E entre essas duas opções de voto há uma só diferença fundamental: "No referendo sobre a IVG, o campo do Não quer impor os seus valores a todas as pessoas. O campo do Sim acha que são as pessoas que tomam decisões sobre as suas vidas. A importância simbólica do referendo reside aqui: divide as águas quanto à noção de liberdade e fá-lo de maneira radical justamente por remeter para o universo do corpo, da sexualidade, da reprodução, do género - aquele onde é mais viva a batalha entre a prisão (da "natureza" e da tradição) e a liberdade (da cultura e da invenção)" (de Os tempos que correm).

E aqui é que entra a "igualdade de género": é que dificilmente um embrião pode ser feito sem a colaboração, a conivência e a responsabilidade de dois: um homem e uma mulher. A igualdade está na liberdade de escolha. E na possibilidade de uma decisão conjunta. Quando não há acordo, há desigualdade e quem a sofre é a mulher. O corpo é dela. E é sua a última decisão. A desigualdade está na tomada de decisão, que é precisamente individual.

A desigualdade de género passa por aceitarem os homens que nunca hão-de ser mães. E por aceitarem que ser mãe é um acto de liberdade, que inclui o direito a procriar mesmo sem a sua concordância e o direito a abortar mesmo a sua autorização. Eu entendo que custa. Mas é assim mesmo. (Ser pai é uma coisa que se decide na fase anterior.)

Há que aceitar esta igual desigualdade. Ou persistir nos valores machistas que perpetuam a repressão milenar sobre a vida, o corpo e a liberdade das mulheres - exactamente com o único propósito de controlar a sua fecundidade.

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