25 abril 2007

A espuma dos filmes



No Indielisboa, documentários, sobretudo, é o que tenho visto, na exiguidade do tempo e na impossibilidade de abarcar o universo esmagador do seu catálogo; pelo menos as sessões não estão completamente esgotadas, como nos anos passados, mas também os espectadores estão desarmados e sem conseguir esgotar o programa à la carte.

A sensação de imponderabilidade de tudo isto, a de um programa que ultrapassa a nossa capacidade de abrangência, a da proliferação de vozes que invalidam a ilusão da escolha, os banhos de água fria que a diversidade de filmes e linguagens oferece, a sucessão das imagens, a sequência alucinada de curta em curta, a ausência de pausas, as impressões confundidas, a técnica de filmagem e montagem cada vez mais sincopada, ou concentrada, ou negligenciada – tudo isto já não é cinema. É fusão, cadência de impressões, doses fortes de imagens. Onde não sobra tempo para digerir nem reflectir, nem ler, nem escrever. É a cultura visual do teledisco em formato de ecrã de cinema. Não há nada entre um filme e outro, nem ideias, nem vida, só uma espécie de consumo aleatório, cansativo; já nem há partilha nem diálogo sobre os filmes, não há quem lhes chegue.

Como eu gostava que, em vez de um Indie por ano, houvesse indies todo o ano, todas as semanas, mas parece que nem isso é compatível com a lógica dos eventos que governa a rentabilidade dos festivais. Embuchar, desembolsar, rebentar e voltar à normalidade, até para o ano, fingindo que não há filmes todos os dias e em toda a parte a serem feitos e a precisarem de ser vistos por espectadores frescos e capazes de deglutir e reflectir.

22 abril 2007

Quem sabe sabe




"Melhor negócio que o da saúde... só mesmo a indústria do armamento."

(Acerca do novo Hospital da Luz, Isabel Vaz, RTP1, 18-04-2007)

18 abril 2007

Não vi o livro, mas li o filme



Colóquio na Faculdade de Letras de Lisboa, dias 19 e 20 de Abril: http://www.fl.ul.pt/comparatistas/

17 abril 2007

Hoje à noite



Passa na Cinemateca, às 22 h, Domingo à Tarde (1965) de António de Macedo (a partir do romance de Fernando Namora), com Isabel de Castro (Clarisse), Ruy de Carvalho (Jorge), Isabel Ruth (Lúcia), Alexandre Passos (Preso), Constança Navarro (Velha do Poço), Cremilde Gil (Enfermeira) e Fernanda Borsatti (Maria Armanda)

A sinopse da Cinemateca: «Cronologicamente, o terceiro filme marcante do Cinema Novo português, depois de OS VERDES ANOS e BELARMINO e, como estes, perfeitamente inserido nas tendências do novo cinema dos anos 60. ”Gosto de experimentar, cinema de montagem intenso, sincopado, gosto de inserir teoria dentro da acção fílmica” (Luís de Pina) são algumas das características desta obra amarga e sóbria, situada no meio hospitalar. O primeiro filme de longa-metragem de António de Macedo foi também o primeiro trabalho de Elso Roque como director de fotografia.»

13 abril 2007

Fernando Peçonha



Ah ah ah aha ha. No Público de hoje, a Laurinda Alves, em dia de azar, publica um texto supostamente de Fernando Pessoa, apócrifo evidentemente. Está à vista de qualquer um que conheça a obra de Pessoa que aquele poema piroso nunca podia ser dele, e ainda por cima com pronome reflexo colocado à moda brasileira: "Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história". Um idiota qualquer o escreveu, assinou com o nome célebre, pôs na internet e a lepra disseminou-se até chegar às páginas do Público!! Dá imensa vontade de rir. Pobre Pessoa, quantos poemas não terá falsificados pela net? (Basta uma breve pesquisa para avaliar a praga.)

09 abril 2007

Ante-estreia (2)



Pintura Habitada, o filme de Joana Ascensão que ganhou o grande prémio Doclisboa 2006, terá a sua ante-estreia formal na Cinemateca, no próximo dia 13 de Abril, sexta-feira, às 21h30. Este filme é um caso particular de documentário sobre arte, pois, mais do que revelar a pessoa do artista, a pintora-fotógrafa Helena Almeida, procura aproximar-se da sua obra, numa operação delicada de transposição de uma linguagem pictórica para uma expressão cinematográfica de gestos e intenções subjacentes à criação.

Esse é o objectivo do qual não se afasta e, com uma exigência formal equivalente à da obra retratada, quer revelar outras dimensões da trabalho da pintora. Fugindo ostensivamente ao retrato humano, consegue dar vida à pintura e habitá-la, como o título justamente aponta. Pertence a um género de filmes que não pretendem afirmar um ponto de vista individual, senão aquele que nasce de uma confluência de olhares que se corporizam na obra e ganham autonomia ontológica.

P.S. A ante-estreia deste filme foi, pelos vistos, levada a cabo pelo Cineclube de Faro, no dia 28 de Março (vide comentário abaixo).