23 dezembro 2007

Cinema de emigração



Um programa de arromba, no S. Jorge, de 5 a 8 de Janeiro, a começar com O Salto (1967) de Christian de Chalonge e a acabar com Mudar de Vida (1966) de Paulo Rocha.

Aqui fica a apresentação do primeiro (do folheto do ciclo):

O Salto
De Christian de Chalonge
Ficção, França, 1967, 88’

Com Marco Pico, Antonio Passalia, Ludmila Mikael, Henrique de Sousa e António Assunção.
(versão original em português e francês, sem legendas)

«António é um marceneiro português que, para fugir à guerra colonial e à pobreza, decide emigrar para França, respondendo ao desafio de um amigo. À dureza da travessia da fronteira, somam-se as dificuldades em Paris. Sem documentos, sem trabalho e sem falar francês, António deambula pela cidade em busca de Carlos, o amigo que lhe prometera ajuda. Neste seu percurso solitário, a esperança e o optimismo vão dando lugar à desilusão, sentimento partilhado por muitos portugueses com quem se vai cruzando.

Filme emblemático sobre a emigração portuguesa clandestina, O Salto está imbuído de uma forte carga política e ideológica, fruto do ambiente efervescente vivido em França na época. O crescente fluxo migratório, as condições em que partiam os emigrantes – a pé e em camionetas de carga – e a forma como eram recebidos em França são questões retratadas de forma crua e realista. Com esta primeira obra o francês Christian de Chalonge viria a arrecadar, em 1968, o prestigiado Prémio Jean Vigo.»

13 dezembro 2007

A arte do cinema



Lançamento da revista Docs.pt e filmes dia 20, 18h30, no Museu do Chiado, e dia 21, 19 e 21h no IFP.

29 outubro 2007

O que é espanhol é lol



Revista Docs, la primera revista de documental en castellano.
Gostava de saber onde é que se pode comprá-la cá.

O que é nacional é mal



Nota final sobre o Doclisboa: a triste constatação da falta de atenção a que os documentários portugueses foram votados na imprensa diária, começando pelo Público, jornal associado ao evento, onde só se escreveu sobre os filmes estrangeiros, como se os filmes portugas não merecessem uma recensãozita, já que crítica nem há, como se pudessem só interessar a outro qualquer público que não o nacional, supostamente tão desinteressado como os jornalistas, o que se tem provado erróneo. A verdade é que este ano as sessões nacionais tiveram bastante menos público do que nos anos anteriores... Nas páginas de roteiro cultural, sim, havia um pequeno anúncio com todas as sessões do dia, mas incomprensivelmente os anúncios de página inteira do festival omitiam sistematicamente as projecções nacionais. Não há maneira de entender isto.

Mea culpa: também eu não escrevi aqui sobre o doc nacional, mas eu não tenho obrigações públicas. Ainda sou do tempo de "o que é nacional é bom". E quero felicitar o Daniel pela sua assídua cobertura do festival.

27 outubro 2007

Documentário político



É certo e aceitável que um festival de documentário – e tendo o mérito de se assumir como político – englobe muitos filmes que devem mais ao seu conteúdo do que devem à arte cinematográfica. Não é de estranhar portanto que tenham sido muitos aqueles que vi de onde parece ter desaparecido qualquer preocupação com o trabalho de câmara. É que hoje qualquer pessoa com acesso a uma câmara barata consegue filmar os temas mais quentes: guerras, prisões, torturas, ditaduras, miséria, escravatura, prostituição, etc.

Porém, a minha insatisfação não advém apenas do uso imponderável e caótico da câmara, mas também da falta de ponderação prévia ou posterior ao momento da filmagem, que se reflecte numa construção ou sequência expositiva aparentemente arbitrária e subordinada a um objectivo meramente mostrativo: vejam o que eu vi. Há filmes onde não encontrei uma intenção e muito menos um olhar. São filmes onde parece que só interessa o que está do lado de lá, e não interessa a mediação que alguém faz. Ora um filme, como qualquer outra forma de comunicação, tem obrigação de ser consciente sobre o seu discurso.

O caso torna-se mais grave quando o documentário quer ser “político” e nesse propósito deve saber assumir uma ética. O filme These Girls, sobre prostitutas adolescentes do Cairo, apresenta cenas fortíssimas e preocupantes. Em várias ocasiões aparece por lá uma espécie de assistente social espontânea, uma mulher caridosa a quem uma das raparigas diz que quer deixar a rua. Imediatamente, o plano é cortado e saltamos para outra situação qualquer. Fica pendente a continuação daquele diálogo: o que lhe terá respondido a amiga? Não é compreensível que a realizadora (que esteve presente no Doclisboa, mas a cujo debate não pude assistir) corte uma cena daquelas sem nos dar a conhecer a resposta, ou a falta de resposta, àquele apelo. Porque o assunto do filme e a sua intenção última não pode ser senão a de que querer salvar aquelas raparigas – independentemente de isso ser ou não ser possível. E como o filme não nos diz se é ou não, presumimos que não. O que é imperdoável é que a questão central seja omitida por um mero corte irresponsável.

These Girls fica-se pelo charme da denúncia e assim percorre os maiores festivais do mundo e dele se dizem coisas incríveis, como que mostra a alegria das jovens prostitutas – as pobres que se drogam com cola para suportarem dormir no meio da rua e sofrerem o estigma que as cicatrizes com que foram marcadas na cara assinalam e as várias violentações de que são alvo. Diz-se ainda que o filme foge ao sentimentalismo e evita as armadilhas da culpa ou da piedade barata. Que ideia é essa de que sentir pena é uma visão adulterada do primeiro mundo? Essa pena dá responsabilidades. Mas a hipocrisia parece mais confortável.

A partir daqui, levantam-se ainda outras questões – que incidem também sobre o excelente e non plus ultra Papel não embrulha brasas de Rithy Panh, um filme de uma delicadeza enorme, feito com prostitutas no Cambodja e encenado já quase como uma ficção, numa linha equiparável à de Pedro Costa. A questão que aqui ponho já não é a da forma ou a da distinção entre o melhor e o pior cinema, mas a questão da relação do realizador ao real que filma. A pergunta é: o que fez a produção destes filmes – o último financiado com dinheiros europeus – para ajudar aquelas raparigas, cuja condição miserável é resultado da pobreza extrema e insuperável. Qualquer filme que se defronte com uma realidade destas tem a obrigação de revelar, dentro do próprio filme, qual o seu compromisso perante essas pessoas que lhe dão a vida. Nenhum deles o faz. Esta falta de ética faz-nos duvidar da sua intenção realmente política: a de ser actuante sobre o mundo.

20 outubro 2007

Documentário de denúncia



El Ejido - A Lei do lucro, de Jawad Rhalib, realizador marroquino, com produção belga, denuncia as condições de vida sub-humana dos trabalhadores magrebinos no sul de Espanha, em estufas de plástico que cobrem completamente a paisagem. A verdade é que o filme deixa muitas questões em aberto - muitas perguntas por responder na cabeça do espectador. E, se é evidente que tem um propósito de denúncia, fica um tanto aquém de politizar o seu assunto - como diz uma agricultora no filme: "aí já entramos em política, disso não quero falar".

É o que de certo modo o realizador faz: fala dos bairros de plástico onde vivem como porcos os imigrantes clandestinos ou não, fala da exploração, fala da segregação social e do racismo, fala da precaridade do vínculo laboral, fala do pagamento à jorna (em valores absolutos 25/30 euros, mas sem relativizar, pois não nos diz qual é o salário mínimo em Espanha), fala de activismo social perseguido (?), fala de agricultura química - só não fala de política, de leis, de medidas e sanções para defender estas pessoas de condições de escravatura.

Uma entrevista com o realizador parece destinar o filme aos marroquinos que ainda não partiram, desiludindo-os acerca do eldorado europeu. Propósito inglório, pois é evidente que o filme não será mostrado em Marrocos... Ora, o debate que este filme lança só pode ser continuado através de outros meios, através da sua emissão e discussão pública - que parece não ter acontecido ainda em Espanha (nem sequer em festivais), onde a recepção prima pelas reacções: La ley del beneficio. Enfado de los agricultores de El Ejido. e Nueva campaña contra El Ejido que desprestigia su modelo de agricultura. O filme tem sido visto noutros países em vários festivais e passou no canal de televisão Arte. Repete no Doclisboa, dia 23, às 20h30 no cinema Londres, e o debate que se lhe segue, com o realizador, poderá esclarecer muitas dúvidas.

19 outubro 2007

Documentário manipulativo



Fala-se muito de ética quando se fala sobre documentário - como ainda ontem a realizadora dinamarquesa Eva Mulvad na discussão do seu filme Enemies of Happiness - e essa ética é referida geralmente às pessoas filmadas. Mas igualmente importante será a ética relativa ao espectador - que evita que um documentário seja manipulativo e dá ao espectador uma prova de confiança. Não é o que encontramos nos dois filmes que ontem abriram o Doclisboa.

Taxi to the Dark Side, de Alex Gibney, é um documentário do mais televisivo que há e altamente manipulativo: frases de poucos segundos retiradas aos intervenientes - que por breves momentos surgem do negro qual oráculos - são montadas fora do seu contexto discursivo - segundo uma narrativa precipitada cuja lógica nos escapa e nos conduz num labirinto argumentativo cujo objectivo não é apelar ao nosso raciocínio (é tudo demasiado rápido) mas às nossas emoções - aliás, ao nosso horror, que ao fim de pouco tempo se naturaliza e começa a aceitar o que antes - verbal e abstractamente - nos parecia intolerável (as torturas exercidas sobre prisioneiros iraquianos) e por via da exposição se torna mais tolerável (pelo menos aos olhos). (Confesso que não aguentei ver o filme até ao fim.)

Além disso, acho nojento o recurso a um género de banda sonora, que não chega a ser música, mas uma espécie de cama harmónica (um tique do actual cinema mainstream) que pretende subliminarmente suscitar emoções no espectador - expectativa, suspense, tristeza, melancolia, resignação, etc.

Apesar de ter achado Enemies of Happiness um filme muito interessante, também não gostei do uso que faz do mesmo tipo de banda sonora, porque é uma forma de hipocrisia o duplo discurso que ostenta: por lado diz ao espectador: olha, vê como é a realidade; por outro, junta-lhe um tempero de emoçõezinhas adequadas à sua cultura americanizada, para o fazer sentir mais intensamente - como se não bastassem as emoções da protagonista, suficientemente interessantes e reveladoras sobre o que é ser mulher afegã. Acho que isto é um desrespeito pelo espectador.
Também não gostei de ver que, quando Malalai pede para não ser filmada, a câmara continue ligada para apanhar as lágrimas furtivas da heroína, garantindo o momento de clímax emocional que todo o cinema comercial almeja. O que mostra uma falta de honestidade fundamental - a de não ter parado de filmar quando a isso foi instado - e a falta de vergonha em mostrar esse desrespeito.

É o estilo documentário de emoção (que é muito cultivado na América e, sim, no cinema dinamarquês). Para mim, é um embuste. São filmes montados a uma cadência a que as muitas perguntas que se podem suscitar na mente do espectador nunca têm respostas. São filmes construídos para evitar que o espectador pense alguma coisa senão o que está previsto. São feitos de forma a anular o pensamento crítico. São filmes anti-pensamento. São manipulativos. São indecentes.

18 outubro 2007

Maratona



Antecipadamente esmagados pela avalanche de documentários que se aproxima, fazem-se as apostas, dão-se palpites e os comentadores apresentam o seu menu à la carte, porque já sabem que, durante a maratona do doclisboa, quase não terão tempo para respirar e muito menos capacidade para reflectir por escrito.

No Expresso (Actual), Sérgio Tréfaut, enquanto programador do festival, escolheu o seu top10. O Público de hoje (P2) apostou noutros tantos filmes de tendência hardcore. Daniel Oliveira fez sua selecção de política quente. André Dias reflecte sobre a angústia da escolha e faz antecipações cegas. O Animatógrafo escolhe 9.

E eu fico-me por uma visão generalista das tendências do documentário nacional contempladas na selecção. Deixo aqui a lista e mais não quero especular, pois antes é preciso ver os filmes. Se estas tendências são representativas, ou não, é o que veremos mais tarde, possivelmente no próximo Panorama. Usando apenas as sinopses como referência, encontrei os seguintes grupos temáticos, do maior para os menores:

13 FILMES DE ARTES & LETRAS

4 sobre escritores:

A Terra Antes do Céu – de João Botelho
19 Out. 21.00 - Cinema Londres (Sala 1)

Sobre o Lado Esquerdo - de Margarida Gil
20 Out. 21.00 - Cinema Londres (Sala 1)

Poeticamente exausto, verticalmente só - de Luísa Marinho
19 Out. 16.30 - Culturgest (Grande Auditório)
21 Out. 16.00 - Cinema Londres (Sala 2)

& etc - de Cláudia Clemente
19 Out. 16.30 - Culturgest (Grande Auditório)
21 Out. 16.00 - Cinema Londres (Sala 2)

3 sobre o trabalho de artistas:

Piccolo Lavoro - de António Nuno Júnior
26 Out. 18.30 - Culturgest (Grande Auditório)
24 Out. 20.30 - Cinema Londres (Sala 2)

Blind Runner, An Artist Under Surveillance - de Luís Alves de Matos
26 Out. 18.30 - Culturgest (Grande Auditório)
24 Out. 20.30 - Cinema Londres (Sala 2)

Homens que São como Lugares Mal Situados - de João Trabulo
26 Out. 18.30 - Culturgest (Grande Auditório)
24 Out. 20.30 - Cinema Londres (Sala 2)

2 filmados nos bastidores de peças de teatro:

Era preciso fazer as coisas - de Margarida Cardoso
22 Out. 14.00 - Cinema Londres (Sala 2)

Metamorfoses - de Bruno Cabral
22 Out. 14.00 - Cinema Londres (Sala 2)

2 sobre música popular sobrevivente:

Não me Obriguem a Vir para a Rua Gritar - de Rui de Brito
21 Out. 21.00 - Cinema Londres (Sala 1)

Encontros - de Pierre-Marie Goulet
26 Out. 16.30 - Culturgest (Grande Auditório)
24 Out. 16.00 - Cinema Londres (Sala 2)

1 sobre dança:

Outras Frases - de Jorge António
26 Out. 23.00 - Culturgest (Grande Auditório)

1 sobre arquitectura:

Arquitectura de peso - de Edgar Pêra
25 Out. 18.30 - Culturgest (Grande Auditório)
22 Out. 16.00 - Cinema Londres (Sala 2)

5 FILMES SOBRE MUNDOS EM VIAS DE EXTINÇÃO

3 sobre pescadores:

Praia de Monte Gordo - de Sofia Trincão e Óscar Clemente
22 Out. 16.30 - Culturgest (Grande Auditório)
24 Out. 14.00 - Cinema Londres (Sala 2)

A Casa do Barqueiro - de Jorge Murteira
23 Out. 21.00 - Cinema Londres (Sala 1)

Gentes do mar - de Dânia Filipa Ferreira Lucas
24 Out. 14.00 - Cinema Londres (Sala 2)

2 sobre decadência da arquitectura urbana:

Lisboa dentro - de Muriel Jaquerod e Eduardo Saraiva Pereira
25 Out. 18.30 - Culturgest (Grande Auditório)
22 Out. 16.00 - Cinema Londres (Sala 2)

Nocturno - de João Nisa
20 Out. 18.15 - Culturgest (Pequeno Auditório)
23 Out. 21.00 - Cinema Londres (Sala 1)

3 HISTÓRICOS

2 sobre África:

As 2 Faces da Guerra - de Diana Andringa e Flora Gomes
19 Out. 23.00 - Culturgest (Grande Auditório)
22 Out. 23.00 - Cinema Londres (Sala 1)

Adeus, até amanhã - de António Escudeiro
21 Out. 18.30 - Culturgest (Grande Auditório)
22 Out. 20.30 - Cinema Londres (Sala 2)

e mais 1 sobre arquitectura:

As operações SAAL - de João Dias
23 Out. 16.45 - Culturgest (Grande Auditório)
19 Out. 14.00 - Cinema Londres (Sala 2)

2 SOBRE VIDA ACTUAL (e sexualidades)

Convicções - de Julie Frères
20 Out. 16.30 - Culturgest (Grande Auditório)
21 Out. 14.00 - Cinema Londres (Sala 2)

Mulheres traídas (making of) - de Miguel Marques
24 Out. 16.30 - Culturgest (Grande Auditório)
23 Out. 16.00 - Cinema Londres (Sala 2)

E 2 OBJECTOS NÃO IDENTIFICADOS (ditos “encomendas”)

La petite fille et le chien vont au bal de la reine - de Ana Margarida Fernandes Gil
24 Out. 18.30 - Culturgest (Grande Auditório)
23 Out. 14.00 - Cinema Londres (Sala 2)

Jardim - de João Vladimiro
24 Out. 18.30 - Culturgest (Grande Auditório)
23 Out. 14.00 - Cinema Londres (Sala 2)

14 outubro 2007

Hard doc

Se é do documentário actual, ou da programação, ou da promoção, não sei, mas os spots do doclisboa 2007 mostram uma certa tendência hardcore...


05 outubro 2007

Teoria do documentário



Já saiu o número 2 da revista Doc ON-line.

02 outubro 2007

A praga do DVD

«Ao chegar à sala, repara numa série de pessoas a ver televisão através de um projector vídeo. A projecção do filme seguir-se-ia, dizem-lhe. Mas, desconfiado, e não vendo à sua volta equipamento de projecção, o espectador dirige-se à jovem senhora italiana que o tinha anteriormente orientado para a sala. Pergunta-lhe se, por mero acaso, a projecção não será eventualmente em vídeo, quer dizer, pior ainda, de Dvd. A senhora demora um pouco a perceber a questão, como se nunca tivesse reparado na diferença que este espectador, talvez desactualizadamente, tentava estabelecer entre projecção de película e de Dvd. Que sim, que era de Dvd. Ah! O espectador esboça um sorriso, só acessível aos verdadeiramente ociosos, e sugere delicadamente à senhora italiana que talvez não fosse má ideia mencionar no programa, por sinal com uns tons de azul tão bonitos, que a projecção ia ser, precisamente, de Dvd. E que em português havia uma expressão muito gira, talvez a senhora italiana não conhecesse, que é a de «gato por lebre», que podia talvez ser usada para descrever a situação, apesar da generosa entrada gratuita.» (...)

André Dias in http://aindanaocomecamos.blogspot.com/2007/10/em-dvd.html

Eu pensava que as edições de filmes em dvd ou vhs eram exclusivamente para projecção privada, segundo o aviso geralmente constante nas caixas: «Toda a cópia, exibição, aluguer, troca, sub-aluguer, empréstimo, exibição pública, difusão ou emissão são proibidos por lei e farão incorrer em responsabilidade civil e criminal». Enfim, o que seria dos clubes de vídeo...

29 setembro 2007

Cinema esquecido



Quem não aparece esquece, lá diz o ditado. Vidas sem Rumo, terceira longa-metragem de Manuel Guimarães estreada há mais de 50 anos - uma história passada entre mendigos, estivadores e contrabandistas dos cais de Lisboa - será exibido na segunda-feira, dia 1 de Outubro às 22 horas, na Cinemateca, onde não é visto há já 10 anos. Este é o momento único de o podermos apreciar e de reavaliar a má memória que lhe deram.

Vidas sem Rumo era projecto de filme pelo menos desde 1948, mas a sua rodagem só se iniciou em 1952, com um segundo argumento feito em colaboração com Alves Redol. Pouco antes, MG acabara de realizar dois filmes de enfiada: Saltimbancos (1951), aclamado pela crítica neo-realista, e Nazaré (1952) com argumento de Alves Redol, mas tendo sofrido cortes de censura que bastante o prejudicaram. Nessa época, Guimarães (que nascera em 1915) ainda era considerado uma esperança de renovação do cinema português.

Porém, Vidas sem Rumo haveria de sofrer inúmeros cortes da censura e o realizador só o deu por concluído em 1956, depois de ter refilmado uma boa parte e substituído uma actriz, para conseguir que o filme resultante tivesse ainda inteireza. Ainda assim, foi aprovado com cortes da censura e estreou-se em Setembro de 1956 no Teatro da Trindade, onde esteve em cartaz durante 3 semanas. Segundo Manuel Guimarães este foi um filme que se pagou a si mesmo (sem subsídios, note-se).

Dizia o realizador, em 1963, numa entrevista ao Diário de Lisboa: «Vidas sem Rumo era uma história minha, e talvez por isso o considere, entre todos os meus filmes, o melhor. Acontece que do verdadeiro filme que fiz, apenas uns 50 por cento foram apresentado ao público. Muita gente é disso testemunha. Considero que este filme teria sido o salto para um cinema português de expressão. Foi mal apresentado, mal compreendido e tive de consentir – ao fim de quatro anos da sua realização – a sua estreia porque de outro modo seria a ruína dos seus produtores. Caso curioso: foi o meu único filme que deu lucros apesar da sua mutilação. Foi um filme barato, 550 000$, o primeiro que, em Portugal, foi realizado sem estúdios, em compartimentos acanhadíssimos duma casa particular, na Ameixoeira.»

A crítica histórica foi todavia impiedosa e construiu um anti-mito acerca deste filme. Luís de Pina, que em 1977 (1) ainda reconhecia algum valor a este filme («mostrava a pobreza urbana e a dificuldade de viver, apesar das mutilações que sofreu.»), em 1986 (2) diria que “a censura [o] tornou irreconhecível”; depois Bénard da Costa (3) chama-lhe “desastre” e Jorge Leitão Ramos (4) afirma que “Guimarães tem o futuro negado e inúmeras dívidas às costas, fruto do insucesso”, o que não é propriamente correcto.

Desde então, são vários os autores que negam a existência de um neo-realismo no cinema português, mormente por não estar à altura ao seu modelo italiano, como se fossem equiparáveis as situações socio-políticas na Itália do pós-guerra e da libertação e em Portugal, cada vez mais fechado e apertado pelo regime fascista. Para circunstâncias diferentes, respostas diferentes, evidentemente. O neo-realismo no cinema português foi o que foi; talvez incipiente, talvez “melodramático e sentimental” (JBC), talvez aquém das expectativas, mas é uma falácia afirmar que não existiu. Importa ainda frisar que, na década de 50, Guimarães foi o único cineasta resistente, o único que então desafiou corajosamente a cultura oficiosa do Estado Novo, e sempre perdeu com isso. Os seus filmes são os sobreviventes possíveis desse paciente extermínio da cultura portuguesa às mãos da censura de Salazar, e devemos saber olhá-los, senão como obras perfeitas, como obras de resistência. É essa a minha proposta para dia 1.

(1) A Aventura do Cinema Português, 1977, p.56
(2) História do Cinema Português, 1986, p. 122
(3) Histórias do Cinema, 1991, p.108
(4) Dicionário do Cinema Português (1962-1988), 1989, p. 191

28 setembro 2007

Cinema fetichista



Metal e Melancolia (1993), documentário acerca dos taxistas de Lima, Peru, é o primeiro de muitos documentários que Heddy Honigmann desde então fez e aquele que inaugura e, claramente, estabelece um estilo, um método, um olhar pessoal - definindo uma abordagem original no cinema documental.

Honigmann aborda os taxistas a partir do objecto/instrumento que é o automóvel que conduzem e que, neste caso, apresenta aspectos quase bizarros de degradação usados como truques anti-roubo que, no contexto de crise económica, garantem a preservação do automóvel. A maior parte destes taxistas exercem a actividade como segunda profissão e no seu carro particular, ao qual apenas afixam um autocolante. A realizadora senta-se no banco ao lado ou atrás e, embora ausente da imagem, mantém uma interlocução sucinta com o condutor, a suficiente para os levar a desenvolver histórias pessoais – que, se por lado denunciam a situação económica do país, sobretudo revelam assuntos familiares e sentimentos (uma certa melancolia) com uma sinceridade tocante – que faz a força deste filme.

O automóvel é afinal apenas o pretexto para desvendar o resto e chegar ao grau mais íntimo de revelação da pessoa. Esta é a técnica privilegiada de Honigmann: partir do objecto – e do seu valor como fetiche, símbolo, projecção, transferência - para chegar ao âmago dos seus protagonistas. Ou seja, tirando partido de uma relação sempre latente entre as pessoas e os seus objectos significantes - prenhes de conotações, aspirações e significados – é como se o objecto fosse, na sua simplicidade, a porta aberta para a alma das pessoas. É afinal esse o papel dos objectos na vida das pessoas, e a razão por que tanta importância adquirem enquanto símbolos, amuletos, fetiches. O objecto tem um estatuto equivalente ao dos conceitos abstractos ou morais. Ele condensa e representa uma série de memórias, desejos e afectos.

O papel da interlocução é também essencial na definição do estilo de Honigmann. Mas distingue-se do género entrevista pela sua discrição e simplicidade, tanto quanto se distingue do cinema-(in)directo que mascara e omite as interlocuções para dar a ilusão de um universo auto-contido onde não se sentem as interferência do sujeito de enunciação estranho ao ambiente.

Outro filme é o extraordinário é O Amor Natural (1995), filmado no Brasil e tomando como ponto de partida o livro, assim intitulado, de poemas eróticos de Carlos Drummond de Andrade, que Heddy faz ler em voz alta por pessoas de idade, suscitando em conversa – mais uma vez a partir do objecto, aqui poético – a revelação de dimensões inusitadas da intimidade pessoal, como são o desejo e a vida sexual daqueles que a sociedade geralmente ignora. É um filme monumento. Um documentário revelador como poucos no mundo. Um poema em carne e osso.

O documentário sobre os músicos underground de Paris - The Underground Orchestra (1998) – é aqui literalmente sobre os músicos que tocam nos subterrâneos do metro, e que depois serão expulsos para a superfície das ruas. Na sua relação com a música e com o seu instrumento revelam-se histórias de vida, muitas delas relacionadas com migrações e episódios da história política na América do Sul, por exemplo.

Notável será ainda o documentário que rodou na Bósnia - Good Husband, Dear Son (2001) - acerca das terríveis guerras civis que assolaram a antiga Jugoslávia na década de 90. Mas como será possível falar da morte, dos massacres e de tantos horrores tão recentes? Joaquim Sapinho conheceu também essa dificuldade, ele que fez um filme – Diários da Bósnia - onde não há palavras para exprimir o horror. Mas Heddy Honigmann fez o que só para ela podia ser óbvio. Partiu dos retratos dos maridos e filhos mortos, para suscitar através deles todo um caudal de memórias de amor e de dor, que naquelas recordações todas se condensam.

O seu último filme – Forever (2006) - leva ainda mais longe essa relação, tão intrínseca e constitutiva do humano, entre os objectos e a dimensão espiritual do indivíduo. Deslocando-se até ao cemitério Père Lachaise em Paris, a realizadora indaga as motivaçãoes dos visitantes cultistas de artistas célebres ali enterrados e mostra uma forma de memória que, ao invés de mórbida, se apresenta como uma fonte de alimentação espiritual e de relação com o mundo da arte – que se simboliza nesse afecto aos grandes - através do qual se exprimem inclinações e sentimentos pessoais e intransmissíveis – não fosse o método de Honigmann de os conseguir transmitir. Este filme também extraordinário (perdoe o leitor falar num só texto de tantos filmes extraordinários, mas não posso evitá-lo) ganhou no IndieLisboa de 2007 o prémio do público. Que um filme sobre um cemitério seja o preferido do público só pode ser um atestado de excepcionalidade.
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Mas a excepcionalidade de Honigmann não se fica pelo método de abordagem. Os seus filmes conquistam-nos ainda através da construção narrativa e pelo domínio da grande forma (temas que não desenvolverei aqui).
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P.S. HOMENAGEM A PEDRO ALPIARÇA. Na Guilherme Cossoul. 30 de Setembro. 22 h.

25 setembro 2007

Metal y melancolia



Hoje, não perder na Cinemateca, às 19h30, o documentário de Heddy Honigman, Metal y Melancolia (1993).

22 setembro 2007

Alice ou não



Durante esta semana de festival, tem surgido amiúde nas conversas a discussão acerca do filme A Casa de Alice (uma história hetero, digamos) ter sido adequadamente escolhido para a abertura de um festival especialmente intitulado, vocacionado e dirigido a um público gay e lésbico – este ano onomasticamente assumido como queer.

O termo queer, aceite nos estudos académicos, aparentemente não tem tradução portuguesa, ainda. Mas poderia bem chamar-se festival maricas – expressão perfeitamente inocente que nos acompanha desde tenra idade e que tanto se aplica a meninos como as meninas – assinalando um pendor de sensibilidade que exactamente a cultura masculinista rechaça. Mas enfim, o uso das palavras é sempre uma questão delicada e o termo queer torna-se eventualmente mais sério e evita eventualmente a fuga dos espectadores com receio de serem conotados, apontados, confundidos, estigmatizados, gozados e todos esses medos do que os outros vão dizer que contaminam a saloia sociedade lisboeta.

Ora, voltando à casa de Alice, e resumindo o plot: Alice vive com o marido, os 3 filhos matulões e sua mãe. O marido anda com a vizinha do lado, adolescente. Alice é manicura e será seduzida pelo marido da sua melhor cliente. O filho que anda na tropa é prostituto gay. Há uma afectividade vagamente incestuosa entre ele e o irmão mais novo. Quando os rapazes brigam, saltam os insultos. Neste pequeno espaço doméstico, cruzam-se diversas e secretas sexualidades, perante o olhar da avó, atento e silencioso, num papel que se confunde com o nosso olhar de espectadores daquela humanidade em família. Mas, só nós, espectadores, sabemos que ela sabe e nada diz. Nem diz à filha que o marido a engana, nem comenta nem censura nem interfere. Esta avó, com longa experiência de vida, é a figura da tolerância e da aceitação das diferenças dos outros e sobretudo das suas sexualidades, quaisquer que sejam, independentemente das traições, das ambiguidades morais e das mentiras que elas representam.

Perguntava-me alguém (que não viu o filme): então é um filme contra o casamento machista? Não, não é contra nada. (Não é um filme heterofóbico.) É um filme onde se pratica a aceitação plena do humano naquilo que sempre o define tão bem, ao contrário do conhecido preceito que diz “não faças aos outros o que não queres que te façam a ti”. Pois é o que toda a gente faz, encaremos a realidade. Aceitemos a contradição dos actos.

Haverá melhor filme para abrir um festival destes e demonstrar, sem moralismos quaisquer, que toda a sexualidade tem a mesma origem, apenas variam as suas vivências, preferências e concepções?

Leituras recomendadas:
http://danieljskramesto.blogspot.com/2007/09/subtilmente.html
http://damnqueer.blogspot.com/2007/09/s-voltas-com-o-queer.html

12 setembro 2007

Cinema queer



Começa na sexta-feira, dia 14, o festival Queer Lisboa 11, nova designação que abrange sexualidades diversas e temáticas mais abertas do que o anterior título “gay e lésbico”. Todavia, afirma-se tanto como evento político quanto como um festival de cinema. Será o cinema queer um género? Ou existirá um olhar queer? Um olhar - diferente - que atravessa filmes de vários géneros, filmes que passaram os limiares da moral normativa e se aventuram noutras áreas da vida humana...

Na abertura, às 21h30 no cinema S. Jorge, será mostrado um filme que nem sequer parece nitidamente gay e etc. – A Casa de Alice, de Chico Teixeira – “um retrato vivencial cativante e que, mesmo firme numa vontade de mostrar o que pode ser real, não procura ser bandeira de qualquer discurso ideológico”. “Sexo, suor (e algumas lágrimas) moram naquele apartamento, onde um casamento há muito se desmoronou, e os desejos vivos de Alice feitos agora palavras, ora com clientes em sessões de manicure, ora entre colegas e amigas, à noite, de cervejinha na mão”.

O texto atrás citado retirei-o do catálogo e não pertence à sinopse oficial. Os programadores do Queer Lisboa – João Ferreira e Nuno Galopim - fizeram algo extraordinário, que é a primeira vez que vejo: sobre cada filme escreveram um texto de apresentação e análise, que essencialmente aborda cada filme enquanto obra cinematográfica. São excelentes textos e contribuem muito para nos interessar pela qualidade dos filmes.

Também será apresentado o meu documentário Fora da Lei (domingo, dia 16, às 15h30), cujo trailer fica aqui - mais o link para o blogue queer.

26 agosto 2007

Verão quente



Vale a pena não perder Torre Bela (1977) em versão de ecrã (uma versão mais curta existe em DVD editada pelo Público nos 30 anos do 25 de Abril). Este documentário foi filmado ao longo de 8 meses, desde 23 de Abril de 1975, data em que os trabalhadores locais ocuparam esta herdade ribatejana (e reporta-se até 1 de Dezembro de 1975, segundo legenda inscrita no final do filme, ao fim de 500 e tal dias, incoerência que não consigo verificar...).

A especial virtude deste filme, segundo tem sido dito e reforçado, está numa atitude observacional que interfere o menos possível com o real a acontecer e o traduz na sua vivacidade autêntica e irrepetível. (Aquilo a que se chama cinema directo, ou documentário de observação, onde não há uma voz tutorial a explicar e a dar sentido ao que vemos.) Esse olhar directo dar-nos-ia uma perspectiva da revolução popular isenta de mensagens ideológicas e substancialmente diferente dos documentários portugueses de então, demasiado militantes, onde se incluirá, suponho, um outro filme intitulado Cooperativa Agrícola Torre Bela (1975), de Luís Galvão Teles. Seria interessante comparar um e outro. Mas também houve outros filmes feitos no modo directo, e por isso importa relembrar alguns que talvez sejam os poucos: Continuar a Viver (1976) de António da Cunha Telles, Barronhos (1976) de Luís Filipe Rocha, ou Terra de Abril (1977) de Pierre Costantini e Anna Glogowsky (também editado em DVD pelo Público).

O modo revelador com que o documentário do alemão Thomas Harlan nos serve a realidade a quente, aproxima-nos daquelas pessoas e estabelece uma espécie de pacto de realização – que é um pacto de respeito por elas, mesmo por aquelas de quem não gosta, como o proprietário das quintas, o impertigado duque de Lafões. Este personagem do antigo regime apenas aparece no início, mas servirá de contraponto ao longo do filme para os excessos da população pobre e reivindicativa.

Todavia, o documentário não é assim tão objectivo como aparenta. É que se, por um lado, nos dá a ver mais do que esperávamos, por outro, não preenche uma série de lacunas que o espectador pode sentir, à medida que a ocupação das terras dura. Por exemplo, não chega a perceber-se como se organiza o trabalho das pessoas (se se organiza de facto), se ocupam o palácio e lá dormem, onde e quantos, ou que destino deram aos livros retirados das estantes e empilhados às dezenas, de onde vêm e voltam aquelas multidões que acorrem aos comícios aparentemente improvisados, e como percorrem os quilómetros de estradas que inicialmente vimos de helicóptero, que contactos houve afinal entre os trabalhadores e os patrões, apenas referidos mas não apresentados enquanto resoluções – todas estas são algumas das dúvidas que o filme não esclarece. Podemos perguntar-nos, naturalmente, se estas lacunas, na nossa compreensão dos acontecimentos, decorrem da falta de material – é compreensível que durante ano e meio (??) não estivesse sempre a câmara presente – ou de uma opção do realizador na mesa de montagem. As duas razões provavelmente: a montagem superando pelas suas opções ideológicas as lacunas da filmagem, como em todos os documentários, aliás.

Clarificando as suas opções, o documentário centra-se sobretudo em situações de interacção e elas parecem escolhidas e encadeadas segundo uma curva sinusoidal que faz suceder às situações de caos, situações organizativas, a estas sucedendo de novo o conflito. Neste conjunto, o realizador mostra uma atenção selectiva aos processos colectivos, mais do que ao conteúdo das suas discussões. Esta opção nem é difícil de compreender se observarmos como o homem da câmara (Russel Parker) filma quase sempre em plano-sequência e tenta captar as várias acções em jogo e os vários debates simultâneos. Ele, estrangeiro, que não podia entender o que as pessoas diziam, filma segundo os gestos e as interacções físicas. Mesmo nós, espectadores lusófonos, teremos dificuldade em acompanhar o que os protagonistas dizem, mas não teremos dificuldade em seguir as emoções e as intervenções – porque a isso estava muito atento o excelente cameraman. Para mim, este é um filme acerca dos processos de organização e conflitualidade humanos – e sobre a aprendizagem in loco da democracia e da cooperação – e não sobre a selvajaria do PREC ou os atentados à propriedade privada, que alguns facilmente deduzem. Dar a cada espectador a possibilidade de ler o filme à sua maneira é o mérito da realização, pois.

Porém, 30 anos passaram, e o ridículo daquele representante da aristocracia é suplantado pelo ridículo dos camponeses iletrados – que hoje, sim, fazem rir as plateias do cinema King, como se esconjurassem o passado rindo-se dos seus antepassados recentes ou das próprias memórias. Quando o homem da enxada não percebe o que é uma “comprativa”, dispara o riso pronto do burguês satisfeito, sem se dar à reflexão sobre as tensões entre o individual e o colectivo que ali se exprimem contraditoriamente. Quando um militar diz: “ocupem primeiro, depois virá a lei”, riem-se os bem-pensantes da sala, os que superiormente sabem que isso é uma estupidez, que primeiro tem que vir a lei. A esses faltava pôr a velha pergunta: onde estavam quando foi o (pós) 25 de Abril? E no escuro do seu anonimato, os cínicos rejubilam.

O que faz delirar o público do documentário – que é um público que nasceu na última década – é geralmente dar umas boas risadas à conta dos ridículos dos seus semelhantes, que lhes parecem tão diferentes. Uma espécie de reacção primitiva, desopilante e irreprimível. É a risota alarve de quem gosta de ver apanhados na televisão e com isso sai satisfeito da sala. O que era uma atitude, da parte do realizador, essencialmente de aproximação e compreensão do outro transmuda-se numa espécie de afastamento satírico por intolerância.

28 julho 2007

Leitura de férias



É tanto o spam que chega que não há geralmente tempo para o ler. Mas se o olharmos com mais atenção descobrem-se algumas maravilhas da literatura, da imaginação e do mundo desconhecido. Quem o decifrará? Dava uma tese de doutoramento.

«Due to the sudden death of my husband GeneralAbacha the former head of state of Nigeria in June 1998, I have been thrown into a state of hopelessness by the present administration.I have lost confidence with anybody within my country

«This is to inform you that your email has won a consulation prize of the Microsoft Corporation»

«My name is JOHN MALIK, son of late marketing chairperson of Sierra Leone diamond marketing board, who was killed by the rebel, Mr. Sigistmund Malik but late now

«This is to inform you that the Senate President, Senator Ken Nnamani have instructed me to release your Accrued Interest Payment Valued $15m into your Account and i have tried every thing humanly possible to contact you

«I am Miss.HUDA HADIL KASHIF, an Iraqi national, the only survival daughter of Mr. KHALID KASHIF,who is into oil marketing in Iraq

«Dear friend, Greetings to you in the name of our heavenly God. This mail might come to you as a surprise and the temptation to ignore it as unserious could come into your mind; but please, consider it a divine wish and accept it with a deep sense of humility

«I am Mr. Ming Yang.i have an obscured business> suggestion for you.I am here-by seeking your service in helping me recieve a large amount of money and in giving a clear research and> feasibility studies on areas I could invest on

«Though this medium (Internet) has been greatly abused, I choose to reach you through it because it still remains the fastest medium of communication

20 julho 2007

Isto é...



...uma experiência de poesia concreta em meio interactivo, por Ana Hatherly, pioneira da poesia concreta desde os anos 60: http://www.interact.com.pt/interact1/lab_1.html

18 julho 2007

Retorno



Documentários de Alain Resnais, hoje às 22h, na fábrica Braço de Prata - nova migração das livrarias Ler Devagar e Eterno Retorno - entre muitas outras actividades, diariamente partir das 22, 23, 24h. (Só acho o horário demasiado noctívago.)

15 julho 2007

O factor independente



Em Lisboa, ganham todos. O PS ganha sozinho a Câmara, pela primeira vez em 31 anos, disse António Costa. E diz Sócrates: é mais uma grande vitória do PS. Na verdade tiveram menos que 30% e ficaram abaixo dos dois candidatos afectos ao PSD que juntos somam 32%. Se não fosse a dissidência de Carmona, o resultado seria muito muito incerto, a favor do PSD. O PS deve-lhe a vitória. Carmona também se diz ganhador, pois confirmou no escrutínio a sua base de apoio pessoal, ignorando os interesses partidários pelos quais concorreu há dois anos e pelos quais se sentiu "traído" há 3 meses. Por outro lado, a esquerda combativa - Roseta, a CDU e o Zé/BE - juntos ganharam 5 vereadores, quase tantos como os 6 do PS ou do "PSD". Mas a CDU e Sá Fernandes mantêm os lugares que já tinham. Apenas Helena Roseta, afinal, vem roubar votos ao PS. Verificamos que bastaram dois desalinhados para estragar o equilíbrio táctico dos grandes partidos. A engrenagem agora é outra. A nova ordem política exige que saibam encontrar consensos ou maiorias.

Foto: Ao Fim da Noite (1991), de Joaquim Leitão

03 julho 2007

A cultura de merceeiro



«O presidente da administração de Serralves, Gomes Pinho, defende a extinção do Ministério da Cultura» (Público, 30 de Junho 2007). Diz que, com este “elemento quase simbólico”, quer “lançar o debate público sobre a matéria”. Curiosa pedrada de quem administra uma fundação cujo orçamento é pago pelo mesmo Ministério da Cultura a 50%. Na verdade, o “advogado e gestor” não pretende acabar com o financiamento do Estado às instituições culturais, apenas pretende alargar a privatização da cultura, cujo “serviço público” seria pago pelo estado.

Ou seja, em vez de serem os criadores a dirigir-se directamente ao MC para obterem apoios para as suas actividades, seriam os advogados e gestores da cultura a fazê-lo. Muito cómodo. Os criadores passariam a lidar portanto directamente com estes advogados de outra causa que não é certamente a mesma que a sua. Os advogados do gosto dominante, os angariadores de públicos para a cultura, que, muito oportunamente, recebem chorudos financiamentos estatais.

Ora, se existem iluminados capazes de fazer da cultura um negócio, para que há-de existir um ministério da cultura, sujeito ao escrutínio público, a contas públicas, à renovação periódica de ministros e directores de teatros e tudo o mais? Que desperdício. Entregue-se a tarefa aos burocratas da finança que eles se encarregarão, no anonimato dos seus gabinetes, de fazer valer a cultura que vale dinheiro – aquela que dá público e prestígio – e, já agora, facilitar os negócios de lavagem de dinheiro que o comércio da arte tanto ajuda. O paraíso.

Então e os concursos e as pontuações e os júris rotativos de especialistas de teatro e de dança e de cinema e de artes e de tudo o mais? Quem precisa de jurados e especialistas, quando o que interessa são os públicos? A cultura, diz ele, “tornou-se uma utility”. “Então é preciso reposicionar o Estado nisso, e ver a cultura a partir da óptica do fruidor, do consumidor”. Adeus cidadania, o direito à voz própria transforma-se em direito de consumir (pagando).

Assim, a independência face ao estado ficaria livre das “tentações – que são humanas – de imposição de gostos pessoais”, diz ele, querendo insinuar que os subsídios são dados por preferências políticas, “obviamente, porque os políticos não são santos”. Os decisores privados, esses seriam isentos. Grande falácia. Ora, é para isso mesmo que existem júris especializados, para evitar favorecimentos. De facto, só o Estado pode garantir, pela transparência das suas regras e regulamentos e legislações, a maior equidade.

Então e os artistas? Ora, que vão bater às portas e lamber as botas dos senhores poderosos, desses pseudo-mecenas que gastam o que não é seu, segundo o critério universal da sua arbitrariedade. Que se sujeitem às leis da ”concorrência internacional”. De que estará ele a falar? De cultura portuguesa? Esqueçam Portugal, agora estamos na Europa, no mundo. Como ele diz, “os talentos são muito móveis – não sei se serão tão móveis como o capital”. Brincamos? Os administradores da arte têm altas ambições para as suas cobaias, os “novos criadores” vendidos fresquinhos como as alfaces e trocados como um produto perecível de mercearia. A menos, claro, que os iluminados vejam neste e naquele talento firmado a lâmpada de Aladino dos cifrões, a estrela capaz embasbacar as massas e atrair a massa.

O problema destes gestores é a sua cultura de merceeiro, que lhes deve ser muito útil, mas que se distingue radicalmente da genuína cultura. O senhor Gomes Pinho não está a falar de cultura, senão de comércio e margens de lucro. Mas a autêntica cultura não é um negócio, nem o consumo da dita, nem um campo onde a concorrência dita as leis, como ele pretende.

A cultura é a necessidade humana de exprimir e criar segundo leis próprias. Para conseguir chegar aos outros, independentemente, muitas vezes, de obter ou não sucesso junto do público. O ideal da cultura é ser livre, gratuita, independente. A cultura é o amor do conhecimento, da descoberta, da investigação; é a invenção pura, a arte pela arte, a liberdade do gesto, a intervenção pública ou a necessidade de revolta.

Nada disto cabe na sua carteira de “programações com estabilidade”, de “contratualizar com o estado programas de cinco a dez anos com metas quantitativas e qualitativas”, de “uma política de atracção de talentos do estrangeiro”. Então, o ministério da cultura não tem como missão apoiar os criadores portugueses ou de Portugal? Para António Gomes Pinho parece que tem a missão de trazer criadores estrangeiros de prestígio para gerarem grandes movimentações de massas. É a síndroma Frank Gehry, a cultura dos novos-ricos, dos especuladores, das estrelas do poder.

O entrevistador, muito a jeito, pergunta-lhe se não gostaria de “pôr isso politicamente em prática, eventualmente num próximo governo”. Espantosa pergunta. Visto que o seu propósito é extinguir o MC e substituí-lo por financiamentos transversais a todos os ministérios – numa óptica promocional e utilitária dos objectivos desses sectores da economia – resta-lhe o tal lugar que há-de “substituir o MC, a nível de governo, por uma estrutura muito flexível junto do primeiro-ministro”. A ver se pega.

O Ministério da Cultura que tutela os museus e o património histórico, os monumentos arqueológicos, os arquivos de cinema, a memória das artes, os teatros nacionais, as orquestras e as companhias de dança, a biblioteca nacional e tudo o mais – tudo aquilo que é de todos nós, que é a nossa cultura comum – deve existir sempre para que tudo isso continue sendo património nacional.

Que vivam as fundações, mas não comam tudo. Agora querem todos ser berardos.

Imagem: Miguel Palma

29 junho 2007

O mistério de S. Pedro de Alcântara



O restauro das cantarias escultóricas do jardim de S. Pedro de Alcântara (cujos trabalhos foram interrompidos há bastantes meses, por falta de pagamento da CML) - que pude fotografar há pouco tempo, após a acção de derrube da vedação anunciada no blogue Incubadeira - mostra um tratamento altamente duvidoso de limpeza da pedra, que parece ter sido desgastada selvaticamente de um lado, e do outro... ainda não.


Também é de estranhar que o bebedouro pertencente ao mesmo património de "mobiliário urbano" tenha sido limpo e depois deitado fora. Precisam-se opiniões técnicas.


P.S. A empresa responsável é XIX Construção Projectos e Gestão, Lda (cujo site já não está online).

21 junho 2007

As 7 letras do arco-íris



Já repararam que, desde o ano passado, o Arraial Pride assumiu mais uma letra? LGBT e H de hetero. Isso quer dizer que todos os heterossexuais que apoiam e defendem direitos iguais para todas as categorias de género e orientação sexual, podem comparecer a manifestar-se e a festejar o S. João.
Mas estas letras ainda não abrangem tod@s. É que nem toda gente encaixa no modelo de parelha que aquelas letras descrevem. Assim como há famílias unipessoais, também haverá os que se contentam na sua unicidade e ainda os que dispensam orientações sexuais. Por isso, eu acrescentava ainda mais duas letras - O de onanista - e A de assexuado: LGBTHOA (que rima com Lisboa).

18 junho 2007

A graça dos insultos



Prado Coelho, hoje no Público, cita a famigerada DREN: "Sei muito bem distinguir entre o que é uma graça e um insulto." Ora, exactamente, vejamos qual a diferença entre uma coisa e outra. Um insulto é uma acusação feita directamente à pessoa alvejada, ou na sua cara, de forma a ser sentida como ofensiva, ou em situação pública, de modo a poder ser reportada ao próprio ou a ofender os seus amigos, apoiantes ou afectos. Uma graça distingue-se do insulto porque, não sendo dita na presença do próprio, não tem consequências ofensivas para o alvo. É o que acontece todos os dias e a toda a hora quando apelidamos de estúpidos, cabotinos, medíocres, filhos da mãe, etc., aqueles que bem nos apetece, mas que sabemos não irão tomar conhecimento da má-língua feita nas suas costas. Agora se alguém de má vontade for fazer queixinhas por sms! (lembro-me de como aprendi no contexto social da escola que pior que fazer um disparate era fazer queixinhas, no tempo em que a associação às denúncias pidescas ainda estava fresca) e tornar público o que foi dito em ambiente reservado - esse, o delator, é que está a transformar uma graça num insulto, é ele o culpado, o responsável por transformar uma "boca" num assunto público. Isto independentemente do que quer que o professor Charrua tenha dito, que aqui não interessa nada.

13 junho 2007

Regresso à pré-história



Será lançado - na próxima sexta-feira, 15 de Junho - o número 5 da revista Docs.pt, com dossier dedicado às relações entre televisão e documentário. Que o interesse das televisões pelo chamado documentário de criação, ou documentário social, ou documentário cinematográfico, é ténue, já se adivinhava. Mas, ao confrontar os agentes televisivos com as suas opções, percebemos então que voltámos à pré-história do documentário - em Portugal.

De que serviram 10 anos de actividade da associação Apordoc e de promoção, debate e divulgação de cinema documental? De que serviram 12 anos de festival da Malaposta, ao longo dos quais Manuel Costa e Silva foi educando um público que não existia e apoiando os criadores nacionais? De que serviram 4 edições cheias de público do festival Doclisboa, mais os pitchings do LisbonDocs, ou a programação de documentários exibidos em espaço próprio na RTP2 por Diana Andringa e Jorge Campos?

A RTP - serviço público - continua alheia à existência de documentários. A RTP2 continua a gabar-se de passar muitos documentários de animais e de "cultura portuguesa", tipo A Alma e a Gente - que são outro tipo de documentário, o chamado "documentário televisivo", com as suas regras próprias, a sua formatação, os seus limites. Mas por que ignora o potencial, o interesse e a existência de outro tipo de filmes? Os documentários - tanto, aliás, como as ficções de longa-metragem que durante anos tiveram espaço privilegiado na RTP2 (lembram-se das "5 noites 5 filmes"?) - desapareceram subitamente com a anterior direcção de Manuel Falcão.

A RTP2 de hoje, com a sobranceria que o seu director de programas Jorge Wemans demonstra na entrevista dada à Docs.pt, nega até a existência documentários portugueses. A pergunta feita pela Docs.pt é claríssima: “Então a RTP não exibe documentários portugueses porque não há?» E a resposta lapidar: «Claro! Pensa-se que há uma produção imensa e que a RTP2 não quer exibir.» Ora é isso mesmo que se pensa o que acontece.

Há muitos documentários em Portugal que a RTP não quer exibir: a maior parte dos documentários de que é co-produtora por via do protocolo de apoio ao cinema português que tem com o ICA. Têm-nos lá, são filmes financiados oficialmente, mas a RTP recusa-se a emiti-los e a devolvê-los à sociedade de onde provêm, que reflectem e a quem se dirigem, impossibilitando o seu escrutínio público, a existências de crítica, de discussão e de vozes diversas no espaço público de televisão (nem que fosse tarde e a más horas!).

Diz Wemans: «Sendo mais claro, eu acho que há documentários de autor que não foram feitos a pensar em televisão e que portanto eu, como programador, acho que não têm lugar na grelha.» E ainda diz: «Eu não tenho nenhum espaço televisivo permanente que corresponda à ideia mais estreita de documentário de autor e nem estou interessado em criá-lo porque acho que ele deve dialogar com outros documentários.» Ora, exactamente, parece-me que a ideia de documentário de Wemans é que é muito estreita e demonstra falta de visão e de conhecimento.

«É verdade que se o documentário de autor me surge como uma proposta em que eu não decidi nada, (...) que foi realizado por quem quis, com o olhar que quis, recorrendo aos financiamentos que pôde, esse documentário tem um espaço mais limitado na RTP2.» Ou seja, Jorge Wemans arroga-se, enquanto director de programas, o papel a ter uma palavra sobre o olhar e a realização de cada filme, recusando-se a entender que documentário-de-autor é realmente de autor, e não de programador. Parece não saber que fazer um documentário é uma actividade que se exerce no campo da liberdade de expressão, tal como um livro, uma crónica ou um debate televisivo. Só a diversidade pode garantir a liberdade de expressão.

Não cabe a um programador impor o seu programa estético e ideológico centralizado, mas dar abertura e espaço a que a diversidade de perspectivas se manifeste e chegue aos seus interlocutores: a sociedade, o público. O programador deve servir o espectador, não enquanto público-alvo, como em publicidade e televisão comercial, mas enquanto sociedade – isso é que é serviço público.

Houve já muitos exemplos de como este tipo de documentário – até pelo seu conteúdo social e humano – encontra boa recepção junto do público e consegue afirmar a sua identidade na criação de novos públicos. Mas a RTP parece não se interessar por essa coisa – que é serviço público – que é criar novos públicos e promover a cultura. Para Wemans, serviço público é “a nossa iniciativa fundamentalmente centrada nos documentários sobre a cultura e património português”, visão tradicional e estreitíssima do conceito de documentário. A televisão portuguesa ainda não passou o cabo Bojador, como diz José Manuel Costa noutro artigo da Docs.pt.

Não te parece, leitor, que a obrigação moral da RTP seria exibir os documentários portugueses e cumprir um serviço público que “se a RTP não fizer, ninguém mais fará” (como diz Leena Pasanen acerca da televisão finlandesa)?

10 junho 2007

Cronograma



O cinema português de ficção consultável num prático cronograma visual em http://www.amordeperdicao.pt/crono_fr.asp .

09 junho 2007

Acontece em Coimbra



Um excelente blogue dirigido por Manuel Portela, acerca das actividades do TAGV: www.blogtagv.blogspot.com.

Na foto: conferência de Alberto Pimenta.

02 junho 2007

A santificação



Manoel de Oliveira será talvez o primeiro realizador a receber tal distinção: "cineasta do Sagrado"*. O júri do Secretariado Católico Para a Cultura destaca os filmes Acto da Primavera, Le Soulier de Satin, O Meu Caso e Palavra e Utopia. Mas outros há, mais iconoclastas talvez - O Passado e o Presente, pela ridicularização do sagrado matrimónio; ou Benilde ou a Virgem Mãe, desfazendo em perversidade o dogma da imaculada concepção; ou O Convento, habitado pela disputa entre Deus e Satanás - que se prestam a leituras ambivalentes, sem deixarem, claro está, de pertencer ao "percurso de um criador extraordinário, que sempre buscou, a partir do elemento espiritual, alargar a reflexão acerca da condição humana".

Como dizia João César Monteiro, "Manuel de Oliveira, no contexto português, faz parte da pequena minoria de cineastas católicos (os outros são Paulo Rocha e, numa escala bem modesta, o autor destas linhas) para quem o acto de filmar implica a consciência de uma transgressão. Filmar é uma violência do olhar, uma profanação do real que tem por objectivo a restituição de uma imagem do sagrado, no sentido que Roger Caillois dá à palavra. Ora essa imagem só pode ser traduzida em termos de arte, no que isso pressupõe de criação profundamente lúdica e profundamente ligada a um carácter religioso e primitivo."** Ou aquilo que o SCPC cita como "a nossa insaciável fome de Deus".***

* Público de 02 Junho 2007, p. 12.
**João César Monteiro, "Um necrofilme português", Diário de Lisboa (Suplemento Literário), 10 Março, 1972, in Morituri te Salutant, ed. &ETC, 1974.

***José Régio

29 maio 2007

Pai e Filho



O diário do pai Quinze - de 15 em 15 dias - e as surpresas do menino Pedro:

«Ontem trazia uma novidade.
- O pai não é meu pai!
Acontecem estas revelações, não costumam ser os filhos a fazê-las, mas acontecem. Preparado para tudo não dei de mim quando perguntei:
- Não sou teu pai?
- Não. Nós somos todos filhos de Jesus e da Santa Maria e por isso o pai é meu irmão. Não é meu pai. Os meus amigos também são meus manos. Na Terra somos todos manos uns dos outros. (...)»

24 maio 2007

Cine Farol



Um novo blogue de cinema, com uma dúzia e meia de bloguistas que hão-de dar que ler e ver: cineclubefaro.blogspot.com.

23 maio 2007

Doc site



A Apordoc, Associação pelo Documentário, tem um site renovado, que passa a ser a praça central de todas as informações úteis, indispensáveis e actuais acerca de documentário, entre as quais o acesso à pesquisa na base de dados de filmes da sua videoteca. Uma morada a fixar: www.apordoc.org.

22 maio 2007

O Salto (2)



Quem não viu não sabe o que perdeu. Mas o Nuno poupou-me o trabalho de o explicar: leiam Le grand saut.

21 maio 2007

O Salto



Hoje no Instituto Franco-Português, às 22 horas, O Salto (1967), primeira obra de Christian de Chalonge, um filme sobre a emigração portuguesa para França, a única ficção feita sobre essa realidade, que no cinema português da época ficou eclipsada. Representou França no festival de Veneza e teve um prémio Jean Vigo. Com música de Luís Cília.

17 maio 2007

Aos leitores



Prevendo a incerta regularidade da minha escrita aqui, aconselho os leitores mais assíduos a usarem o google-reader, que faz a actualização automática dos novos posts, evitando andarmos a passear por blogs parados.

Foto: instalação de Joan Brossa, exposta em Janeiro no Instituto Camões.

16 maio 2007

Hoje não perder



O Passado e o Presente (1971) de Manoel de Oliveira, na Cinemateca às 19h30.

«Num filme cuja inspiração é, por vezes, tão intensa que dá a sensação de querer constantemente escapar-se ao controle do autor, estamos aqui, talvez, perante um daqueles fenómenos em que os acasos da criação ultrapassam o próprio criador e, porque não dizê-lo?, se insurgem contra a sua própria ideologia.»

João César Monteiro, "Um necrofilme português", Diário de Lisboa (Suplemento Literário), 10 Março, 1972, in Morituri te Salutant, ed. &ETC, 1974.

15 maio 2007

Conflito cognitivo



Helena Roseta, a mulher-política que mais admiro e que em 30 anos de democracia foi sistematicamente posta de lado, porque "diz sempre o que pensa".
José Sá-Fernandes, em quem votei e que merece ser premiado pela excelência dos serviços prestados.
António Costa, o melhor que o PS tem.
Um autêntico quebra-cabeças. Em quem votar?