31 janeiro 2006

Videar

Começou o Panorama, mas ainda só vi poucos filmes e um dos debates. Tem-me faltado o tempo livre e é uma pena não estar a videar os conjuntos de filmes que a organização relacionou por um tema ou abordagem, estratégia que permite perceber muitas coisas interessantes e importantes que, isoladamente, passam às vezes ao lado. Por exemplo, o estilo rapsódia dos filmes apresentados na sessão de abertura (de Douro Faina Fluvial à actualidade); ou a pesada nostalgia (embora contraditória) dos filmes da secção A Acabar.

Mas já me contentaria muito se (por sugestão) aquelas duas pessoas que em cada dia tomam o encargo de videar todos os filmes (para falarem deles no debate) pusessem por escrito o seu balanço pessoal. A discussão oral sabe-me a pouco e as ideias ficam soltas. Filmes merecem ser vistos e pensados. E para suscitar a reflexão não há como escrever e pôr as ideias em forma. Outros as poderão discutir e cotejar. Essa é a minha intenção quando aqui escrevo. Gostava de ter mais interlocutores ou, simplificando, gostava que alguém o fizesse por mim, para mim.

26 janeiro 2006

Panorama: programação e sinopses

Daqui para baixo, a programação completa do Panorama - Mostra de Documentário Português, de 27 de Janeiro a 5 de Fevereiro no Forum Lisboa (av. Roma) - por ordem retrógrada, mas acessível na coluna à direita.

Panorama (11) Filmes sobre filmes - Dom. 5 Fev.

Filmes sobre Filmes

Quando um filme reflecte sobre si próprio, quando nos segreda as suas expectativas e objectivos, quando se expõe nesse sentido, é também ponto de partida para observar a linguagem em si, o próprio modo como se filma. Se no documentário tudo pode desenvolver-se numa atitude que permite que a linguagem seja pensada, então o encontro destas duas interrogações é oportunidade privilegiada para meditar sobre o todo.

11h

DROGAS EM LETRAS, Nucivo
Mini-Dv, 21’, 2005
A 19 de Dezembro 05 três polícias à paisana entram na faculdade de letras da universidade de Lisboa, dirigindo-se directamente para o bar da associação de estudantes. Às 16 :15 detêm três alunos por estarem a fumar um charro... uma semana antes o jornal o Crime tinha publicado um artigo em primeira página afirmando que o bar da associação estudantes seria um pólo de tráfico de drogas leves de Lisboa. O NUCIVO foi para o terreno e tentou descobrir quase toda a verdade.

ERA UMA VEZ UM ARRASTÃO, Diana Andringa, Mamadou Ba, Bruno Cabral, Joana Lucas, Jorge Costa, Pedro Rodrigues
Beta SP, 20’, 2005
Dez de Junho, praia de Carcavelos. Muitos jovens juntam-se ao sol. Há tensão e insultos. Depois chegará a polícia. Às 20h, as televisões apresentam ao país o “arrastão”, um crime massivo, centenas de assaltantes negros, em pleno Dia de Portugal. o noticiário torna-se narrativa apaixonada de um país de insegurança e “gangs”, terror e vigilância. o filme passa em revista um crime que nunca existiu, a atitude dos media perante uma história explosiva e as consequências políticas e sociais de uma notícia falsa.

LUSCO FUSCO, Ricardo Freitas
DvCam, 20’, 2005
Uma equipa de filmagens desafia dois jovens, Zé Pedro, cego desde nascença e Linda, que perdeu a visão na adolescência, para realizar uma curta-metragem na qual participam não só como protagonistas, mas também como realizadores. Zé Pedro é um assíduo espectador de cinema e Linda apaixonou-se pela patinagem ao vê-la na televisão. Ele joga com a imaginação para construir o filme e ela usa a memória para criar imagens do que vivencia. ambos filmam o que não vêem, momentos, formas, cheiros e sons que se tornaram importantes nas suas vidas.

MALMEQUER, BEM-ME-QUER OU O DIÁRIO DE UMA ENCOMENDA, Catarina Mourão
Betacam Digital, 51’, 2004
Malmequer bem-me-quer ou o diário de uma encomenda é um filme sobre o processo de realização de um documentário. um diário em flash-back sobre a experiência da realizadora em confronto com o projecto que lhe foi encomendado por um canal de televisão. Lança várias questões, nomeadamente, sobre a forma como a televisão cristaliza estereótipos, mas não só. Penetra no domínio da realização, assinalando as dúvidas da realizadora, as suas dificuldades face à transformação de pessoas em personagens, face à indefinição das fronteiras entre realidade e ficção, perante os limites da mise-en-scène e a impossibilidade de configurar a representação de uma identidade colectiva.

14h

BUENOS AIRES HORA ZERO, José Barahona
Betacam Digital, 69’, 2004
Colónia do sacramento é uma cidade no Uruguai fundada pelos portugueses no séc.VVII. Dizia-se que ali ainda vivia um homem que seria descendente dos fundadores. Partindo à procura desse homem, o filme segue o seu rasto até à grande metrópole de Buenos Aires que nos revela as suas cicatrizes, memórias e personagens.

BUBBLES, Helena Lopes e Paulo Nuno Lopes
Betacam Digital, 60’, 2005
A Helena e o Paulo andaram dez anos a perguntar às pessoas se eram felizes. Interrogaram os estudantes de uma universidade de elite na América e um pastor do Nepal que acreditava que a terra é plana. Depois o Paulo voltou para os Estados Unidos para fazer um doutoramento sobre a felicidade. Então encontraram quatro estudantes que se dedicavam a reinventar a vida e que os deixaram a pensar o que é que tinham andado a fazer estes anos todos.

PRETO & BRANCO, João Rodrigues
DvCam, 12’, 2004
Preto & Branco é um documentário sobre si mesmo, uma visão e uma homenagem à riqueza e relatividade da imagem a preto e branco. É uma viagem feita a partir dos olhos de um narrador que nos leva numa viagem pelo imaginário colectivo partindo de uma perspectiva muito peculiar.

DEBATE "FILMES SOBRE FILMES" com a presença de Francisco Ferreira, crítico de cinema e jornalista do Expresso.

18h

"Percursos no Documentário Português: alguns filmes de Manoel de Oliveira"

O PÃO
35mm, c, 59’, 1959
O pão de cada dia obriga a um esforço constante, de que o homem sai dignificado… o ciclo da semente: fecundação, nascimento, recolha, transporte do grão, moagem industrial, panificação moderna; distribuição e consumo do pão; regresso da semente à terra. Um novo ciclo se inicia…

AS PINTURAS DO MEU IRMÃO JÚLIO
16mm, c, 16’, 1965
A nostalgia de um poeta – José Régio – ausente da terra natal, Vila do Conde, anima as imagens duma memória: as pinturas do seu irmão – Júlio Maria dos Reis Pereira, também poeta Saúl Dias -, albergadas na velha casa onde nasceram. Assim desfilam em longa panorâmica, como na imaginação…

DEBATE FINAL: QUE PANORAMA?

Panorama (9) Detrás do traço (10) Do sair - Sab. 4 Fev.

DETRÁS DO TRAÇO

Espreitar, quase que por detrás, o momento da criação de uma obra. Acto de descoberta, ou de revelação, num campo onde a matéria do cinema e os materiais das artes plásticas se tocam amiúde.

11h

AS MINHAS MÃOS SÃO O MEU OLHAR, João Luz
MiniDv, 74’, 2005
O José Coelho é escultor. inspira-se nas coisas simples da terra onde vive, e tem as suas raízes. Conta-nos como transforma o que vê, o que sente, naquilo que os outros vêem de si: a sua arte. Ele mostra-nos, sobretudo, porque é que não conseguiria viver sem moldar com as mãos aquilo que o seu olhar alcança.

EXPANSÃO DO MICROCOSMOS TENTACULAR, Thom de Bock
MiniDv, 43’, 2005
De vez em quando sonha que o seu corpo deixa de sentir a força da gravidade e começa a levantar voo? O realizador acompanhou a artista plástica Suzanne Themlitz durante todo o processo de um trabalho: no atelier, em passeios, pesquisas, deambulações e divagações. Fez entrevistas à artista e documentou o percurso até à instalação final de Oh La La... Oh La Balançoire / Microcosmos Tentacular, integrada na exposição Vidas Imaginárias na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa em 2004/ 2005.

14h

UM QUADRO DE ROSAS, Miguel Ribeiro
DvCam, 25’, 2004
“As rosas não se explicam!”, quem o diz é Emídio Aleixo. Pintor. noctívago. Vegetariano. Fumador. É uma pincelada única, intuitiva, sem estudos... Entramos no seu atelier, para acompanhar a pintura de um quadro de rosas. oportunidade também para conhecer os seus gestos, a sua música, o seu trabalho, as suas histórias. o seu rosto, nunca.

ESTÓRIAS DA PINTURA, Joana Pontes
MiniDv, 90’, 2004
Viagem pela pintura portuguesa da segunda metade do século xx através do olhar e das estórias do seu principal marchand e do seu mais coerente coleccionador, Manuel de Brito.

16h DEBATE "DETRÁS DO TRAÇO" com a presença de Delfim Sardo, Professor na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa; e Raquel Henriques da Silva, Professora de História da FCSH da Universidade Nova de Lisboa.

Do Sair

Vêm de outros lugares e cruzam-se, agora, connosco na rua. Fica sempre a interrogação, a curiosidade, a necessidade de conhecer mais sobre quem saiu do círculo dos seus e procura, num sítio distante e diverso, algo diferente que os valorize. Como é que se vivem estes movimentos hoje?

18h

DARIEL - ENTREVISTA A UM ESTUDANTE CUBANO, Mário Costa
Mini Dv e Super 8, 24’, 2005
Este documentário tem como fio condutor o depoimento resultante de uma entrevista efectuada a Dariel – um estudante cubano que prepara a sua saída de Cuba a fim de prosseguir os seus estudos na Europa. ao discurso fluido acerca da sociedade cubana e da situação de mudança que se adivinha no país, sobrepõe-se um olhar sobre o quotidiano de pessoas comuns. todo o depoimento aparece aqui como a voz-off de uma reflexão que se entende transversal a toda a sociedade cubana.

A CONVERSA DOS OUTROS, Nuno Lisboa, Constantino Martins
MiniDv, 22’, 2005
Numa cabine telefónica em Portugal, emigrantes brasileiros vêm repetir o mesmo gesto de ligação entre os dois lados do atlântico. no relato do quotidiano, escutamos o que dizem e suspeitamos o que ouvem, num espaço indeterminado entre o público e o privado, o individual e o colectivo.

CARTA DE CHAMADA, Cristina Ferreira Gomes
Betacam digital, 65’, 2004
No dia 23 de Dezembro de 1952, o Giovanna C. chegou ao grande porto de Santos, no Brasil. Era um dos muitos navios que cruzavam o atlântico para emigrantes europeus desembarcarem nos países da América do Sul. Para muitos portugueses foi o fim de uma viagem sem regresso. Na mala todos levavam uma carta de chamada, documento oficial obrigatório para poderem ficar no brasil como emigrantes. E, alguns, desembarcaram também com uma fotografia tirada a bordo. Fernanda guardou para sempre essa fotografia. a imagem mostra-a ao lado de outras mulheres e homens, em torno de uma bóia de salvação. É o retrato de uma geração, de um pedaço de Portugal que atravessou o atlântico em busca de uma vida dourada num país que fala a mesma língua. Mais de 50 anos depois o que aconteceu a estes homens e mulheres que o acaso de um dia da viagem juntou num instante a preto e branco?

21h

CONTRASTES, Miguel Sanches Cunha e Sofia Arriscado
Mini DV, 5’, 2005
Um documentário sobre as três principais zonas de Varsóvia. as mudanças que uma cidade passou. a zona histórica, o centro financeiro e o bairro de Praga.

DEATH BY WATER, Renato Amaral
Mini DV, 24’, 2004

Serguilei abandonou a sua terra natal, a Sibéria. atravessou o velho continente em direcção ao mar. Serguilei desembarcou em Lisboa cheio de ilusões, uma mala cheia de poesia e canções. Como tantos outros povoa silencioso as ruas da cidade de Lisboa. não se pretende com este registo criar um dogma, uma estatística, um barómetro. não se pretende fazer luz sobre a vida dos emigrantes de leste em Portugal. A Lisboa onde nasci é a Lisboa que cria espaço para Serguilei Mahlakov existir, partilhar gestos pequenos, confidenciar.

SLAVA - AS PALAVRAS, Sónia Ferreira, José Cavaleiro Rodrigues
DV Cam, 42’, 2005
Entre nós, um pouco por todo o país, vivem hoje milhares de imigrantes provenientes das mais variadas regiões do leste europeu. ao chegarem, não conhecem nem a língua nem a cultura do país que os recebe. Este documentário estabelece contacto com alguns deles para descobrir o papel das palavras na nova vida que têm de construir: as palavras que não conhecem e têm de aprender; as palavras que partilham entre si e lhe recordam a terra natal; e, finalmente, as palavras novas com as quais criam e recriam a sua e a nossa língua.

DEBATE "DO SAIR" com a presença de Rui Pena Pires, Professor de Sociologia das Migrações do ISCTE; e André Costa Jorge, Antropólogo (Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas)

Panorama (8) Detrás do palco - Sex. 3 Fev.

Detrás do Palco

Todo o processo de construção é também a procura do conjunto. Filmar um processo artístico implica ir além das partes e descobrir o que está para lá do espectáculo que se desvenda, as raízes do que se mostra em cena, como se chega ao que se representa.

14h

PARA ALÉM DO TEJO
, Patrícia Poção
MiniDv, 74’, 2004
Para Além do Tejo foi um espectáculo de teatro produzido pelo teatro Meridional que teve como pressupostos conceptuais de construção a procura de um trabalho de exploração de linguagem gestual, visando tornar expressivo um universo que identificasse o Alentejo. Este vídeo documentário é fruto de um ano de registos em tempo e modos do nascer e pulsar criativo de um sentimento ‘’Para além do tejo’’.

SE PODES OLHAR VÊ, SE PODES VER, REPARA, rui simões
DvCam, 40’, 2004
Seguimos a experiência do grupo de teatro o bando, na adaptação do romance do Prémio Nobel José Saramago. uma alegoria fantástica onde vemos as preocupações e as emoções dos actores vendados quando passam pela experiência de estarem cegos durante 24 horas num hospital desafectado. Curtas entrevistas onde Saramago expressa a sua satisfação em relação a esta adaptação.

16h

OLHARES CINEMATOGRÁFICOS NO LUGAR DE GAIA, João Lisboa
MiniDv, 14’, 2005
Um olhar sobre o Lugar de gaia, durante a rodagem do trabalho final dos alunos dos 4 anos do curso superior de Cine-Vídeo da ESAP.

IN ÚTERO, Alexandre Martins
DvCam, 67’, 2005
Documento sobre os últimos 3 meses dos alunos de Formação de actores e realização Plástica do Espectáculo da Escola superior de teatro e Cinema. ao fim de 3 anos que medos, que vontades e que frustrações fazem parte do seu universo ao atravessarem o último exercício do ano.

PROJECTO “COMPANHIA RUI LOPES GRAÇA”, José Carlos Fraga
DV Cam, 8’, 2005
A Companhia de Dança Rui Lopes Graça manifesta outra forma de criar e representar dança contemporânea, levando o contexto das suas criações a um contacto mais próximo com o público, tentando expor os seus métodos e intervenções no desenvolvimento de um olhar crítico.

18h

ÓPERA ABERTA, Leonor Areal
DvCam, 75’, 2005
Este documentário acompanha a preparação da ópera Os Fugitivos de José Eduardo Rocha. A obra original, fixada em partitura, vai ser apropriada pelos seus intérpretes, não sem passar por difíceis negociações entre compositor e maestro, por ensaios intensos com os cantores – um dos quais terá de desistir – ou pela energia e desesperos do encenador.

21h

CIRCO!, Rui Ribeiro
MiniDv, 37’, 2004
Um espectáculo de circo tradicional visto a partir dos bastidores. Do outro lado da cortina mágica: homens artistas concentrados nas suas tarefas.

INSIDE OUT, Leonor Noivo
Mini DV, 11’, 2005
Madalena tem 25 anos, acabou de sair da escola de dança e prepara a apresentação do seu primeiro solo. Esta é a primeira parte de um documentário que vai continuar a ser escrito. a proposta é acompanhar Madalena nos próximos projectos. Como estará ela daqui a três anos?

O ENCONTRO, Luciana Fina
Mini Dv, 61’, 2004
Sabes o que é que eu vejo da janela da minha casa? Sacos de carvão, muitos sacos de carvão, muitos, muitos mesmo... (Sérgio, bailarino de Maputo). Lisboa, 7° Encontro internacional Dançar o que é nosso , um mês de laboratórios e seminários sobre interculturalismo e artes performativas organizado por Danças na Cidade, com o antropólogo André Lepecki e diversos coreógrafos convidados. através de práticas performativas, questionam-se sobre o impasse da incomunicabilidade e a cristalização das culturas. Procuram incorporar diferentes experiências de movimento. Eu acompanho-os e questiono-me, filmo e procuro igualmente imagens que lhes pertençam.

DEBATE "DETRÁS DO PALCO" com Fernanda Lapa e João Garcia Miguel

Panorama (7) Retratos - Qui. 2 Fev.

Retratos

Que pessoa nos dá a conhecer determinado retrato? O que é que fica, de cada um, registado no retrato? Se um retrato é sempre uma leitura, um ponto de vista, uma construção, o acto de retratar será então acrescentar, redesenhar contornos?

14h

1º CONCERTO, António de Sousa
DV Cam, 8’, 2005
Acompanhamento dos primeiros passos de uma banda de covers de punk-rock. sendo todos amadores e sem instrução musical, a única coisa que os une é a devoção que sentem pela música. amigos de longa data, deram recentemente o seu primeiro concerto.

MARRABENTANDO – AS HISTÓRIAS QUE A GUITARRA CANTA, Karen Boswal
Betacam Digital, 58’, 2004
Marrabenta é um documentário sobre 3 velhos músicos moçambicanos estrelas da Marrabenta, um estilo musical bem popular. as “Velhas glórias” como são carinhosamente apelidados pelos seus fãs, vivem ainda na carismática capital moçambicana e sobrevivem cantando e tocando canções sobre as alegrias.

NOS BRAÇOS DO MEU XODÔ, Maria João Taborda
DvCam, 15’, 2004
O que podemos conhecer de um casal pela forma como dança? no forró, a mulher é como uma boneca nos braços de Deli.

BROOKLYN, Daniel Ruivo
MiniDvCam, 10’, 2004
Larin é um adolescente perante as possibilidades que a sua vida lhe reserva. Esta é a história do combate entre as dificuldades da concretização dos seus sonhos e as armas que possui para tornar esses sonhos realidade.

TAMIRA, Marta Lima
DvCam, 20’, 2004
“Olha, eu sei voar. queres ver? queres ver-me voar? não, agora estou cansada, as minhas asas estão moles.”

16h

A UTOPIA DO PADRE HIMALAYA, Jorge António
Betacam Digital, 52’, 2004
Em 1904 uma multidão à entrada da Exposição universal de st. Louis, Missouri, E.u.a.. Muita gente ia admirar uma gigantesca estrutura de aço, onde milhares de espelhos reflectiam a luz do sol. Era o Pyrhelióphero, um revolucionário Forno solar inventado por um português, que ganhou o grande prémio da exposição apesar de nem sequer constar da representação oficial portuguesa.

O ESCRITOR PRODIGIOSO, Joana Pontes
Betacam Digital, 62’, 2005
O Escritor Prodigioso é a procura de Jorge de Sena, um dos mais importantes poetas portugueses, trinta anos após a sua morte. Com este filme, a realizadora busca os motivos pelos quais a voz do poeta nos chega, ainda hoje, forte, amargurada, afirmativa e de uma intensidade lírica única. Com a ajuda da sua mulher, Mécia, e de alguns dos seus amigos e companheiros políticos e literários, somos levados a perceber as razões pelas quais este poeta maior foi mal amado pelo seu país, sendo embora respeitado e temido.

18h

LISBOA, CIDADE TRISTE E ALEGRE, Luís Camanho
DVCam, 45’, 2005
Um livro de fotografia da década de 1950, dois arquitectos, uma Lisboa que já não existe...

MAIS UM DIA DE NOITE, António José de Almeida
HD, 53’, 2004
“Luiz Pacheco é um paradoxo de duas pernas”. Esta é apenas uma das definições atribuídas ao homem/ escritor/ editor/ crítico literário que, tal “como um meteorito, passou pelo céu de Lisboa, rebentou e ficou em milhares de pedaços incandescentes, que foram caindo, e ainda hoje caem...” ao longo deste documentário de 53 minutos episódios únicos, relatados na primeira pessoa, com frontalidade, humor e emoção, intercalados com a representação dos seus próprios textos.

REMEMBER ME IN YOUR DREAMS, Maria João Tomaz
MiniDv, 10’, 2004
João Serra acena aos carros, todas as noites, desde há sete anos, numa movimentada avenida de Lisboa. Esta é a forma que encontrou para comunicar com os outros, de contornar a sua solidão depois da morte da mãe e o vazio que sente ter sido toda a sua vida.

FALTA-ME, Cláudia Varejão
Mini DV, 20’, 2005
Na turbulência da vida urbana acontece-nos esquecer ou subestimar coisas que nos fazem falta, ausências que nos suspendem, adiam ou até que nos magoam. Este documentário pede a cerca de uma centena de habitantes da área metropolitana de Lisboa que escrevam numa ardósia o que mais lhes faz falta. São respostas de pessoas de vários extractos sociais, de diferentes idades e com actividades diversificadas, que acabam por compor um retrato íntimo da sociedade portuguesa contemporânea.

21h

A BARBA E A BASE, Joana Montez e David Costa
DV Cam, 11’, 2005
De agente comercial a transformista, vivendo num mundo considerado socialmente normal, Jorge pensa na sua vida e fala-nos daquilo que vai na sua alma, as suas experiências pessoais e profissionais, privilegiado por estar entre duas realidades diferentes, uma por necessidade, outra por prazer. Descubra qual é qual, quem é quem, e sem preconceitos, aquilo que o leva à sua transformação de identidade/personalidade, de Jorge, a barba Kelly.

ESTRELA DA TARDE, Madalena Miranda
DvCam, 25’, 2004
Uma dona de casa lava a louça, estende a roupa, faz a cama, varre o chão. À sua maneira. ao som das suas músicas. A dizer assim os seus dias. até que o dia chega ao fim.

CONVERSAS COM GLICÍNIA, Jorge Silva Melo
DvCam, 55’, 2004
Um documentário sobre a actriz Glicínia Quartin por ocasião do seu 80º aniversário. a sua família, o anarco-sindicalismo, a Escola-oficina nº1, as leituras em casa dos pais, as prisões, o Mud Juvenil, os teatros experimentais, os surrealistas, o encontro com José Ernesto de Sousa e o desabrochar do Cinema novo com Dom Roberto, a Itália, a fantasia, Beckett, Genet, Vitor Garcia, o encontro com Luís Miguel Cintra – uma vida em movimento.

DEBATE "RETRATOS" com a presença de Gonçalo M. Tavares, escritor; e Maria José Palla, Fotógrafa e Professora de História de Arte e de História do Teatro na Universidade Nova de Lisboa.

Panorama (6) A fazer - Qua. 1 Fev.

A Fazer

Quais os gestos do trabalho? Quais as acções, que profissões? Quem trabalha em quê? A actividade humana nas suas variáveis. Como é que o trabalho é visto por quem filma?

16h

PESCADORES DE VILA CHÃ, João Lisboa
MiniDv, 14’, 2005
A vida dos pescadores de Vila Chã pelo olhar das suas companheiras de vida e profissão.

COMUNITÁRIOS, João Romão
MiniDv, 52’, 2004
A pesca ainda é um mar de oportunidades, onde o trabalho é cada vez mais tranquilo e as viagens mais seguras. Portugal e Espanha são terras de pescadores, com ancestral e nem sempre pacífica partilha de recursos. Este documentário é um conjunto de entrevistas às entidades mais relevantes, nos lados português e espanhol, na actividade pesqueira na zona do estuário do Guadiana, considerando que há na zona uma intensa e histórica partilha de locais e recursos de pesca e a perspectiva futura de liberalização do acesso às águas.

NOCTURNOS: A OUTRA FACE DA LUA, Hugo da Nóbrega
DV Cam, 10’, 2005
Visão do pedaço de tempo (sensivelmente entre as 03.00 e as 05.00 da manhã) em que algumas pessoas se encontram a trabalhar, nalguns casos por necessidade, noutros por opção.

NA RUA, Nuno Miguel e Sara Morais
DvCam, 20’, 2004
Apesar da sua invisibilidade, sem eles a vida na cidade não seria possível. um filme com a participação dos funcionários dos postos de limpeza da general roçadas, santa Clara e lavandaria da Dhrus da Câmara Municipal de Lisboa.

18h

O SÍTIO DO CASTELO VELHO, Catarina Alves Costa
DvCam, 53’, 2005
A pedido do instituto Português do Património arquitectónico, uma equipa de filmagens acompanhou durante três anos a escavação arqueológica de Castelo Velho, em Freixo de Numão, na região do alto Douro, dirigida por Susana Oliveira Jorge. Este é um filme que abre caminhos para o debate sobre o passado pré-histórico: teria sido este lugar com cerca de 5000 anos uma povoação fortificada, um local de ritual e culto? o que revelam os vestígios arqueológicos? E a arquitectura do lugar?

DOUTOR ESTRANHO AMOR, Leonor Areal
DvCam, 84’, 2005
Este documentário mostra uma brigada de estudantes de medicina que faz prevenção da siDa numa escola. ao longo de 10 semanas acompanhamos os seus insucessos e conquistas junto de uma turma difícil, mas com personagens muito interessantes. um filme que nos coloca inúmeras questões sobre como falar de sexualidade e que constitui um estudo de caso indispensável ao actual debate sobre educação sexual.

21h

À L’ECOUTE DE SON CORPS, Alex Eiseinger
MiniDv, 10’, 2004
Teresa Simas é uma bailarina do Ballet Gulbenkian que decidiu mudar de método de treino aos 25 anos de idade, em plena ascensão profissional.

O SAL DA TERRA E DO MAR, Luís Margalhau
DvCam, 26’, 2004
O Sal da Terra e do Mar celebra aquela que foi uma das mais importantes actividades económicas da Figueira da Foz. Este filme lança um olhar reflexivo sobre um contexto económico, social e cultural que tem sido alvo de profundas transformações. Este documentário visa utilizar os olhos e a voz daqueles que protagonizam e continuam a dar vida à comunidade de salicultura da Figueira da Foz.

DESTROÇOS OU O TRABALHO DO HOMEM, Hugo Maia
Mini Dv, 5’, 2005
Alguém se cansa de uma cidade e vai de férias para um pequeno paraíso, onde vai encontrar os destroços do inferno do qual pretende fugir. baseado em textos de Herberto Helder.

MÃO-DE-OBRA, Ana Rita Ferreira
Mini Dv, 23’, 2005
Mão-de-obra observa os gestos e os traços de um grupo de pessoas, quando convidadas a trabalhar o papel e a tinta, depois de ouvirem uma música.

DEBATE "A FAZER" com a presença de Eduarda Dionísio, Professora, escritora, tradutora e co-fundadora do jornal Crítica e da associação cultural Abril em Maio; e António Cunha, fotógrafo alentejano, cujo trabalho incide sobretudo na área da Arqueologia, História, Museologia e Etnografia.

Panorama (4) Da memória (5) Da cidade - Seg. 30 Jan.

DA MEMÓRIA

O documentário, como a memória, é também confronto entre passado e presente. Recuperar o lastro de experiências acumuladas é convocar para o colectivo o exacto espaço da interrogação onde se encontram o traço do passado e o traçar do presente.

11h

ANTES E DEPOIS DO ADEUS, António José de Almeida
HD, 53’, 2004
Um paralelo entre diversas pessoas, diversas histórias de vida, diversos enquadramentos sociais, diversas localizações geográficas... antes e depois de abril de 1974, tendo como eixo central a vida dos que foram pais antes da revolução e a vida dos que são filhos depois da revolução.

DUAS HISTÓRIAS DE PRISÃO, Ginette Lavigne
Betacam Digital, 82’, 2004
Na noite de 26 de abril de 1974, abriram-se as portas da prisão de Caxias e os prisioneiros políticos foram libertos. Mais do que a mudança de governo, as manifestações de jubilo popular ou os cravos vermelhos, a abertura das portas de Caxias marca, definitivamente, o fim do regime fascista. Duas mulheres: Diana Andringa e Maria José Campos revivem neste filme os seus tempos de detenção em Caxias.

14h

PRÓ MEMÓRIA – A ARTE DA MEMÓRIA, Raquel Castro e Tiago Pereira
MiniDv, 60’, 2004
É uma série de episódios vídeo documental realizados em várias regiões do norte do país. De uma pesquisa aprofundada sobre as tradições e culturas de uma região, nasce uma história ficcionada, interpretada e desenvolvida pelas crianças do ensino básico. Para além de actores, as crianças são levadas a imaginar tempos que lhes são distantes, desenham e aprendem a dar vida aos seus próprios desenhos, reflectem, investigam, criam…

NO JARDIM DO MUNDO, Maya Rosa
Betacam Digital, 65’, 2004
Na imensa planície alentejana, sulcada por estradas novas e transtornada por grandes obras, homens e mulheres, antigos trabalhadores agrícolas desfrutados pelos lavradores de antigamente, confidenciam quanto a vida deles mudou. Lembram-se das condições de miséria às quais eram sujeitos antes do 25 de abril. o trabalho que faziam nos campos, do nascer ao pôr do sol, não chegava para os alimentar. só a fome, a poesia e o sol lhes pertenciam.

16h DEBATE: "DA MEMÓRIA" com a presença de Irene Pimentel, historiadora e investigadora de temas como a PIDE e a História das Mulheres no Estado Novo


DA CIDADE

Procurar compreender os espaços. Como é que eles constroem as formas em que nos movimentamos? Quais os espaços de encontro que se criam, quais os de conflito? O que é partilharmos um espaço em comum? Filmar a cidade é também registar o que muitas vezes está próximo, como que diluído no nosso dia-a-dia.

18h

O JARDIM, Bernardo Antunes, Gonçalo Palma
DvCam, 13’, 2004
O documentário retrata a relação entre a apropriação do espaço e a memória. o Jardim é sobre um local repleto de histórias perdidas e memórias controversas: quem doou o jardim, qual o seu nome, qual o homem que a estátua evoca, em suma, as (in)certezas das pessoas que o frequentam.

PRÍNCIPE REAL, Maria Aurindo, Paula Alves, Sónia Ferreira, Tânia David
Mini-Dv, 12’, 2005
Feito no contexto da 1ª oficina do olhar, formação intensiva em vídeo documental com orientação de Pedro Sena Nunes - 80 horas teórica-práticas.

LISBOA IMAGINADA, Maria Carita e Marta Rosa
DvCam, 22, 2005
A partir do percurso de uma visita guiada, este documentário mostrar uma ideia de Lisboa construída para o olhar do turista. o guia turístico revela a cidade dirigindo a atenção do visitante para uma Lisboa idealizada para agradar.

FEIRA DA LADRA, Cláudia Silvestre e Sílvia H.
MiniDv, 20’, 2004
Nesta Feira da Ladra, feita de sombras humanas e de objectos perdidos no tempo, é possivel encontrar pessoas dispostas a falar da vida. Pessoas anónimas que transformam este mercado aberto ao céu num verdadeiro espaço de reflexão sem limites.

CIDADE SÓ, Ana Margarida Penedo, Cecília Dionísio
DVCam, 22’, 2004
Uma cidade. uma casa. uma janela. uma mulher. tudo tem o seu tempo. até a solidão?

21h

A GUERRA DOS ANJOS, Ossanda Líber
DvCam, 38’, 2005
Era uma vez um bairro de Lisboa. bairro que alguém um dia, incapaz de prever o futuro, baptizou com o nome de anjos. o documentário trata a difícil coabitação entre os moradores e comerciantes por um lado, e os toxicodependentes por outro. Afinal, quem é o mau da fita?

PALCO ORIENTAL, Maria Antunes, Miguel Vasconcelos
Mini DV, 25’, 2004
Entre os escombros e o futuro de uma Lisboa adiada, o Palco oriental luta pela defesa da sua sala, agora ameaçada com uma ordem de despejo. a igreja recebeu essas antigas cavalariças em 1999, através da doação feita por uma associação fantasma. Contra isto, João Jorge, director do Palco, apenas tem o testemunho do bairro, a memória de 25 anos de actividade teatral e a esperança de poder invocar a usucapião para ter direito a usufruir do espaço onde sempre trabalhou.

A PRAÇA, Luís Alves de Matos
Beta SP, 52’, 2004
Num bairro social da zona oriental de Lisboa (Chelas), uma praça sofre obras de requalificação que se estendem por três anos. neste lugar pensado em cor de rosa, vive uma comunidade deprimida, concentrada no seu dia-a-dia, mas cada vez mais indiferente ao destino das intermináveis obras. O parque infantil e o mercado, que a população tanto deseja, não parecem estar previstos no plano. E os dias continuam…

DEBATE "DA CIDADE" com a presença de Graça Cordeiro, Professora de Antropologia no ISCTE.

Panorama (3) Em comum - Dom. 29 Jan.

Em Comum

Como é que um grupo partilha uma experiência colectiva, um estilo de vida ou uma crença? Como é que se forma uma comunidade? Como é que cada grupo comunga o que tem em comum e dispõe tais dinâmicas na sociedade?

11h

A PELE, Álvaro Romão
MiniDv, 55’, 2005
No séc. xxi, no centro da cidade da Marinha grande, uma antiga fábrica abandonada alberga uma comunidade de toxicodependentes que ali nasce, vive e morre.

14h

VILA MORENA, Alice Rohrwacher e Alexandra Loureiro
DvCam, 36’, 2005
Existe um lugar, talvez o centro cultural mais escondido do mundo, talvez a sala de estar da Mira e Mané, talvez o local de conspiração de uma revolução, seguramente um bar. Vila Morena é pequena história da utopia que encontrámos no tejo bar: a utopia da construção duma nova família, ou da destruição da ideia de família, a utopia de estar juntos ou de estar sozinhos, mas juntos.

RASTAS, Neni Glock
DvCam, 56’, 2005
Rastas mostra o quotidiano de um grupo de pessoas que acreditam e vivem segundo a filosofia de Jáh rastafari em Portugal. Mostra a realidade das lutas e adaptações ao sistema a que chamam “ babilónia”, daqueles que vivem em grandes centros urbanos. Mostra por outro lado uma família de músicos reggae, os One Love Family, que optaram por sair do sistema e viver como se vivia antigamente, plantando e colhendo o seu próprio alimento, sem produtos químicos.

16h

C-MAIL, QUANDO O CORREIO CHEGA POR MAR, Filipe Araújo
MiniDv, 10’, 2005
À primeira vista, Terschelling é apenas mais uma pequena ilha do norte da Holanda. tem um afamado festival de Verão e areais invejáveis. Contudo, são os jutters que lhe dão uma identidade própria. Estes vorazes caçadores de despojos do mar palmilham diariamente cada centímetro de areia em busca das novidades trazidas pelos naufrágios ou tempestades. Com Johan Wolf, um ex-professor primário, tudo é diferente: colecciona apenas garrafas com mensagens.

A OCASIÃO, Rita Brás, Cláudia Alves
MiniDv, 50’, 2005
Colocar os óculos e alienar-se. seguir as indicações: depois do túnel continuar em frente. Tirar uma fotografia para que a vida fique do tamanho natural. será a ocasião de descobrirem até onde vos leva a ocasião. all aboard!

DOCUMENTO BOXE, Miguel Clara Vasconcelos
MiniDv, 53’, 2005
Cinco situações que influenciam directamente a carreira do pugilista profissional Jorge Pina. Conhecemos Mário um pugilista amador, Casteli o presidente da associação de boxe, Vítor o treinador, o próprio Jorge Pina e Magalhães o “manager”. a preparação nos balneários, as pesagens dos atletas, o convívio, os treinos, os ginásios e todos os elementos que rodeiam um combate pouco honesto.

18h

BANDEIRA, Rui Filipe torres
DvCam, 70’, 2005
Bandeira trabalha a memória do evento Euro 2004; um ano depois o que sentem as pessoas sobre esse evento que, na altura em que aconteceu, galvanizou o país.

S. JOÃO – RUA 15, António Barreira Saraiva
MiniDv, 35’, 2005
A festa como momento privilegiado para observar uma rua.

GOSTO DE TI COMO ÉS, Sílvia Firmino
DigiBETA, 57’, 2005
Uma família de Lisboa. um bairro antigo e uma Marcha Popular: a Marcha da bica. Este documentário constrói-se na aproximação a este sítio e a estas pessoas. Do sentido local, do acontecimento popular à dimensão universal do desejo de sucesso, das vivências em comunidade e da procura da glória por mais efémera ou transitória que seja. 21h

18h

SKINHEADS – REBELDES COM UMA CAUSA!, Vítor Hugo Costa
DvCam, 20’, 2004
Racismo, violência, extremismo são desígnios vulgarmente associados à ideia de skin. Raúl tem 32 anos, trabalha, é skinhead. não é racista, não promove nem procura a violência gratuita e não tem qualquer tipo de ideologia política extremista. acompanhando alguns momentos da sua vida e com base no seu discurso, este documentário pretende passar a mensagem sobre o que é ser skinhead.

A FÉ DE CADA UM, Neni Glock
DvCam, 57’, 2004
Acompanham-se alguns personagens em peregrinação a pé ao santuário de Fátima. um deles é um “pagador de promessas”, figura lendária da idade Média que cobrava uma taxa para pagar promessas de outras pessoas. acompanha também os peregrinos habituais que normalmente movidos pela fé na santa se fazem à estrada todos os anos. Paralelamente acompanha a trajectória polémica de um padre católico, preso por duas vezes pela antiga polícia do regime de Salazar. os caminhos que percorrem acabam no santuário onde explodem a fé e a denúncia.

DEBATE: "EM COMUM" com a presença de Rui Tavares, historiador do século XVIII, autor do "Pequeno Livro do Grande Terramoto" e do blog Barnabé.

Panorama (1) A acabar (2) Da terra - Sab. 28 Jan.

A Acabar

Algures entre o registo forte que desvenda e a luta contra o apagamento, pela possibilidade que o cinema dá de registar e reproduzir, o documentário frequentemente procurou fixar o que está em extinção. Para que perdure.

11h

YANGEL, Alejandro Campos, Patrícia Leal
MiniDv, 21’, 2005
A Yangel é um lugar esquecido, selvagem, é uma greta no centro de Lisboa, no bairro da Mouraria. Várias pessoas acompanham o processo de transformação deste lugar, propriedade da Câmara Municipal, abandonado e vendido a uma empresa hoteleira que irá desalojar os seus ocupantes que entretanto se propunham realizar um documentário partindo das imagens captadas pelos moradores do bairro. Perante a situação, o filme transforma-se num documentário sobre o habitar e o abandono.

TUDO VAI ACABANDO, José Manuel Fernandes, Ricardo Martins
MiniDv, 28’, 2005
Este filme é uma viagem à essência de três lojas de comércio tradicional da baixa de Lisboa. uma história que nos é revelada pelas pessoas que a elas estão ligadas. tratando-se de um acompanhar do quotidiano, deixando-nos envolver na vida pessoal destas pessoas através da observação atenta. sabendo que o tempo deixa marcas, revela-se um panorama humano destas transformações temporais.

AMANHÃ NÃO É AQUI, Joana Pimenta e João Seiça
DvCam, 30’, 2005
Numa cidade suburbana, um grupo de reformados consegue resistir ao peso da vida com o auxílio de uma pequena livraria onde todos se encontram. Mas as regras de mercado levam ao fecho deste espaço. Como irá este grupo de amigos resistir ao progresso sem sentimentos?

FLOW (NOW WAS ONCE THE FUTURE), Yve le grand, António Cardoso
DvCam, 19’, 2005
É um filme sobre a passagem do tempo. utilizando o dia-a-dia como metáfora, o filme conta a história da impermanência da nossa existência. Como Fernando Pessoa escreveu tão eloquente no Livro do Desassossego: “há dias em que cada pessoa que encontro, assume aspecto de símbolo, que formam uma, descritiva em sombras da minha vida.”

14h

ENTRE DUAS TERRAS, Muriel Jaquerod, Eduardo Saraiva Pereira
DvCam, 94’, 2004
Narra a história recente na aldeia da Luz, uma pequena povoação condenada a desaparecer com a construção da barragem do Alqueva. Como indemnização à população, é erigida uma aldeia nova num outro terreno a escassos quilómetros. Entre as primeiras negociações e a edificação das casas novas, o filme dá a ver a forma como as autoridades e a população procuram reconstruir a identidade da aldeia.

16h

A MINHA ALDEIA JÁ NÃO MORA AQUI, Catarina Mourão
DvCam, 60’, 2005
Durante 6 anos filmámos muitas horas de imagens na velha aldeia da Luz, condenada a desaparecer debaixo das águas da barragem do Alqueva. a partir deste material e de redacções em que as crianças da aldeia recordam o que sentiram durante todo o processo de mudança, este documentário conta-nos em flashback a estranha história da Luz.

DEBATE: "A ACABAR" com a presença de Clara Saraiva e Paula Godinho, Professora de Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e responsável pelo Centro de Estudos de Etnologia Portuguesa.


Da Terra

Há uma palavra associada à ideia de procura e de conhecimento: origem. Existe uma relação fundamental entre a procura de uma identidade, do espaço fundador, e a de um tempo e de uma forma de vida que se foi distanciando. Por choque ou por saudade, é um movimento recorrente o da procura da terra.

18h

MORABEZA, Constantino Martins
Beta, 90’, 2004
Lisboa. a minha cidade. Dizem que está sempre em obras, uma espécie de estaleiro gigante. acho que é verdade, sempre vi Lisboa em obras. E pensar que as mesmas mãos que lhe colocam os tijolos também abraçam as cordas de um violino. a simbiose absurda e a luta daqueles que por aqui querem mais. um filme sobre música cabo-verdiana e não só.

21h

MORTE GALINHA, João Miguel Vaz
MiniDv, 8’, 2005
Um hábito que tende a desaparecer: criar galinhas e matá-las a sangue frio. a câmara presencia os actos finais, a morte do animal e os passos necessários à sua conservação até chegar ao prato. As imagens são acompanhadas pelos comentários sobre a vantagem de criar animais em casa, a dor dos mesmos, a modernização do animal de aviário e suas consequências.

MICRO DOC’S KINGDOM, Teresa Costa, Rui Monteiro, Carla Capeto, Marise Francisco, Paula Alves, Hitesh, Woitek Ziemelski, Tânia David
MiniDv, 26’, 2005
Vários olhares documentais sobre a cidade de Serpa, realizados pelos participantes da 1ª oficina do olhar durante o seminário Doc´s Kingdom 05.

FIAT LUX, Luís Alves de Matos
DvCam, 16’, 2005
Num lugar perto de Tondela, uma pequena comunidade esperou 25 anos pela instalação da luz eléctrica. E cinco anos mais tarde a luz chegou.

CÁ DENTRO, José Neves
DvCam, 64’, 2005
Por dentro, um olhar exterior sobre as singularidades de uma existência comunitária, remota e particular, no entanto cada vez mais vulnerável às transformações que a ida de pessoas de fora implica: o passado relembrado, o presente observado, celebrações colectivas, traços de solidão, a relação entre pessoas e natureza, o antigo e o novo. a vida na Fajã, em fragmentos evocativos, residuais, especificidades do olhar, de fora para dentro.

DEBATE "DA TERRA" com a presença de Pedro Prista, Professor de Antropologia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa.

Panorama

Começa amanhã, sexta-feira dia 27, a Mostra de Documentário Português, no cinema Fórum Lisboa (Av. Roma). São 90 filmes agrupados por temas (e por dias). Sobre cada tema haverá um debate final. Para facilitar a escolha dos espectadores, segue-se o programa com as sinopses dos filmes (retirado do dossier de imprensa).

Sexta, 27 Jan. 21h

"Percursos no Documentário Português: alguns filmes de Manoel de Oliveira"
DOURO FAINA FLUVIAL
35mm, PB, 21’, 1931
As actividades que se desenrolam quotidianamente ao longo da margem direita do rio Douro, aquando da sua passagem pela cidade do Porto: a circulação, a carga e descarga dos barcos, o rio e a sua ambiência, a ponte, os bairros onde vive a população trabalhadora, que retira o seu alimento da labuta fluvial.

O PINTOR E A CIDADE
35mm, c , 28’, 1956
Os aspectos mais característicos da cidade do Porto (arquitectura, ambiente, vida quotidiana, passado, presente e futuro), em visão pelo prisma estético do pintor António Cruz. assim, as imagens reais alternam com as impressões que o artista plástico vai registando, nas suas aguarelas. o pintor sai do «atelier» e percorre a cidade…

e

COLD WATER, Teresa Villaverde
Betacam Digital, 5’56’’, 2004

Não há uma pessoa no mundo que tenha escolhido o lugar para nascer. Há fronteiras que basta um braço estendido para serem atravessadas. Para que serve uma fronteira?

CONTORNOS, Rita Bonifácio
MiniDv, 5’, 2005
O trabalho sobre o vidro nasce pelo manusear cuidado dos materiais ardentes. Contornos é um documentário que retrata um modo de vida antigo, mas que ainda hoje preenche os espaços fabris de uma terra, Marinha Grande.

O INIMIGO, Bruno Caracol
MiniDv, 12’, 2004
Tem muitos nomes que é como quem não tem nenhum. Espreita-se nas sombras, estremece-se. Uma viagem ao norte de Portugal, zona fronteiriças, Minho, Trás-os-Montes e Espanha. Procuram-se outras formas de ver a realidade, de lidar com o inominável.

AQUECIMENTO, Miguel Ribeiro
DvCam, 14’, 2004
O trabalho das actrizes e dos actores de teatro. bastidores. Preparação. aquecimento.

23 janeiro 2006

Sem palavras

21 janeiro 2006

P.P.S.

Não era minha intenção citar erradamente PM e parece-me que não o fiz. Quando cito "esse tema..." refiro-o à opção dos media por divulgarem previsões em vez de dados. Creio que não li mal, mas fui mal entendida. (Em resposta ao post no Margens de Erro em resposta ao anterior: «Primeiro, se não for grande incómodo, gostava de ser citado correctamente. O "tema que se encontra resolvido" noutros países é o da adopção de standards sobre como se apresentam resultados de sondagens, e não o da "suspeição sistemática sobre as intenções por detrás da apresentação deste ou daquele resultado".»)

Quando falo da “opção dos media em divulgar resultados que não consideram a fatia de indecisos“, refiro-me à opção editorial de dar na primeira página e em parangonas as estimativas em vez dos dados brutos (que obviamente se encontram no interior do jornal, mas não se encontram sempre online). No caso das televisões, a informação é ainda mais fugaz, e a possibilidade de o eleitor reconsiderar os valores brutos é praticamente nula.

20 janeiro 2006

As melhores sondagens aqui (3)



Gráficos de redistribuição dos dados brutos excluindo os que dizem não ir votar.
Fontes: DN e Público em 20-01-2006

DADOS BRUTOS

Cavaco

Alegre

Soares

Louçã

Jerónimo

Pereira

Branco

NS/NR

NV

DN-TSF 20/01/06

40,7

15,8

9,5

5,4

5,0

0,4

3,8

15,5

2,9

Público-Ant.1-RTP 20/01/06

35

10

9

4

4

0

3

24

11


(Os dados brutos do DN, assim como os do Expresso, não estão disponíveis online.)

É notória a disparidade de resultados entre as duas sondagens, sobretudo nos números de abstencionistas e de indecisos, o que mostra a dimensão do seu desacerto.

Na “estimativa” que os media apresentam como “sondagem”, são excluídos os indecisos, os abstencionistas e até os votos em branco cujo valor também conta no resultado final (como se fosse um candidato fantasma).

A opção dos media em divulgar resultados que não consideram a fatia de indecisos, nem os votos em branco, parecendo ser uma opção técnica, é principalmente uma opção ética – de má ética jornalística. Em vez de facultarem ao eleitor uma informação objectiva, transformam uma campanha eleitoral numa espécie de corrida desportiva em que se dão palpites (em vez de discutir conteúdos). Palpites técnicos que o eleitor comum não decifrará, pois não vai ler as letras miudinhas da sondagem nem fazer as suas contas.

Essa opção é anti-democrática. O quarto poder - cuja deontologia, pelos vistos, não está suficientemente regulada – julga-se acima da política e age - impunemente - vendendo políticos como quem vende sabonetes. Procura persuadir em vez de informar. Sendo essa propaganda por princípio eficaz, começa porém a haver muitos sinais do descrédito que os media hoje têm: ninguém gosta de ser manipulado. Veremos se o conseguem.

P.S. A "suspeição sistemática acerca de supostamente "óbvias" intenções por detrás deste ou daquele resultado", que Pedro Magalhães refere no Público de hoje (edição impressa), não será (senão populistamente em certos casos) dirigida aos autores da sondagem técnica, mas aos critérios jornalísticos dos media ao optarem por divulgar previsões em vez de dados. Diz PM que "esse tema se encontra resolvido, há muito tempo, em países onde a discussão pública e académica sobre as sondagens eleitorais tem tradições mais longas que a nossa". Como, gostaria de saber.

18 janeiro 2006

Fábula da Perca e do Cherne: a grande política


Voltei a ver o Pesadelo de Darwin (em exibição no Nimas). No fundo queria saber duas coisas: se o filme era tão bom como me parecera da primeira vez, ou tão mau como dizem os críticos; segundo, se a informação que transmite não terá sido demasiado manipulada, escorando-se no efeito emocional da visão do horror manso da existência.

Mas confirmei as minhas impressões iniciais. É um filme extraordinário, sensível, subtil, inteligente - e actuante, no espírito dos espectadores. E por isso acho que toda a gente devia vê-lo, e devia ser obrigatório para todos os políticos (os da grande política, os únicos que podem fazer alguma coisa pelo estado geral do mundo). Este filme sobre “a lei da selva” pode ser uma autêntica revolução conceptual.

O filme transporta ainda uma forte visão estética, mas sem cair num esteticismo que seria obsceno. É extraordinário, por exemplo, como um filme passado sob o sol de África pode parecer tão crepuscular, escuro e sujo. Talvez seja o uso do vídeo e das suas potencialidades estéticas que o permita. Por outro lado, o uso de figuras metafóricas substitui muitas vezes a violência omitida: o homem da torre de comando que mata a vespa, o anúncio da coca-cola que diz “life tastes good”, as carcaças de aviões e de peixes, o rapaz que quer ser aviador perante o olhar embevecido do pai, o mesmo que mostra com um sorriso as suas setas envenenadas; a prostituta assassinada que canta “Tanzania” – canção tornada elegia - no ecrã da câmara de vídeo perante as suas colegas emudecidas. No seio daquela existência penosa e tão próxima da morte, Hubert Sauper consegue dar-nos a ver beleza nas personagens sofridas. E no entanto, o crítico despreza: “falta ritmo cinematográfico a este documentário ambicioso, mas esteticamente nulo” (Mário Jorge Torres no Público de 14-01-2006).

Para mim – em documentário - não é aceitável embelezar o horror, a miséria ou a violência, ou seja, transformar o sofrimento alheio em prazer estético, sem cair numa relação abusiva com o real, numa estética do sofrimento. (Na ficção, no teatro, nas artes plásticas, esse é um caminho possível, porque são representações; mas em documentário, há uma relação intrinsecamente ética com o real.) O realizador sabe evitar o comprazimento, assim como sabe evitar o oposto - fazer-nos sofrer pelos outros gratuitamente. Ele dá-nos, com a máxima delicadeza, acesso a um mundo de pessoas, não de imagens construídas. Ele apela à nossa inteligência, não aos instintos.

Quanto à possível manipulação ideológica, pareceu-me limpa. Ou seja: o argumento do realizador é muito claro, o seu olhar justo e humano, a veracidade dos factos fácil de atestar. Não há caminhos enviesados, postulados ideológicos, lógicas bombásticas ou condicionamentos emocionais. O olhar é sereno, equilibrado, não exaltado. Há uma progressão na denúncia de situações escandalosas, com uma exposição ponderada dos dados em jogo, longe de uma posição “anti-globalização primária” como acusa MJT. Pelo contrário, há uma permanente coerência na associação entre assuntos, capaz de elucidar as diversas facetas de uma realidade complexa. É um filme feito à medida da compreensão do espectador.

[Um parêntesis necessário para dizer que não acreditem numa palavra do que diz o crítico: que o filme” não ultrapassa o chavão mais rasteiro” (será que se refere à disputa feroz por um prato de arroz?); que “evita o cerne da questão” (se não é este, qual será?); que tem uma “visão folclórica do ecologismo” (estará a lembrar-se do filme de propaganda com música à hollywood que é projectado na conferência internacional?); que mostra “um certo ‘oportunismo’ de remexer no obviamente condenável” (obviamente condenável seria ficar calado). É lamentável que o crítico, com a sua arrogância, afaste o público de um filme tão importante.]

O debate a que assisti, na sessão de domingo passado, também ajudou a clarificar algumas questões inevitáveis, todas em volta de: o que podemos fazer? Ou como descartar a culpa? Diana Andringa pôs a pergunta claramente: seremos nós, europeus, os predadores de África, a perca do Nilo que come todos os outros peixes pequenos? Sim, somos, e o nosso presidente é o Cherne. (Nas rotas internacional do comércio de peixe, o cherne, peixe caro, é muitas vezes aldrabado e substituído pela perca, mais barata.)

O que fazer? Boicotar a compra de perca não adianta, só penalizaria o pescador paupérrimo. E, como anuncia o dono de fábrica, começa a ser difícil escoar todo o peixe: “a Europa já está cheia”. São 500 toneladas por dia que chegam para alimentar 2 milhões de europeus - o mesmo número de famintos que há na Tanzânia à espera de ajuda humanitária.

Sugeriu um dos presentes no debate - Jorge Palmeirim da Liga para a Protecção da Natureza - que cabe à Europa regulamentar e exigir, pelo menos, que não sejam importados alimentos (ou outros produtos) que não garantam as boas condições de habitação, salubridade, alimentação e educação das populações que as produzem. Caberia ainda às empresas (produtoras e exportadoras) implantadas nessas regiões prover e assegurar essas condições de vida, visto que, nesses países de terceiro mundo, os governos não possuem receitas de impostos (obtidas a partir de mercados oficialmente regulados) capazes de criar essas infra-estruturas. Que diz a Europa e que diz o Cherne?

17 janeiro 2006

As melhores sondagens aqui (2)



Fonte: DN-TSF-Marktest – 17-01-2006
(Os resultados brutos não aparecem na edição online do DN, o que viola a Lei Eleitoral; não creio que esta incida apenas sobre a imprensa em papel.)
Dados brutos: Cavaco: 42,9; Alegre: 14,4; Soares: 10,3; Louçã: 5,2; Jerónimo: 5,0; Branco: 4,1; Pereira: 0,6; Não sabe/não responde: 15,5; Não vota: 2,5.
Excluindo os que não vão votar (2,5%), as percentagens redistribuem-se como mostra o gráfico acima, arredondadas às unidades (automaticamente no Excel).
Os candidatos de esquerda somam 37%, contra Cavaco com 43%.
Ainda há 16% de indecisos (Não sabe/ Não responde).
(Ver discussões abaixo.)

P.S. Segundo o artigo explicativo do DN, 7,4% dos que escolhem Cavaco (= 3% do total) admite vir a mudar (3,7 de "incertos") ou está ainda indeciso (3,7 de "indecisos"). À esquerda, entre os que manifestaram uma intenção de voto, os incertos e indecisos estão em maior número nos que preferem Alegre, Louçã e Jerónimo.

16 janeiro 2006

A política pequena


A Câmara Municipal de Lisboa aprovou o apoio financeiro a um documentário de Carlos Saura sobre o fado, projecto que fará parte de uma trilogia de filmes sobre música urbana (com Flamenco de 1995 e Tango de 1998). O apoio, agora obtido com a abstenção da oposição, tinha antes sido recusado com os votos contra da mesma oposição, justificados por divergências quanto ao conteúdo do filme: não era o tema que estava em causa, mas a nacionalidade estrangeira do realizador.

Os vereadores da oposição - encarando o filme como uma obra de propaganda – “contestaram a escolha de um realizador espanhol”. Como se isso fosse um atentado ao espírito nacional que o fado representa? Como se um olhar estrangeiro não pudesse debruçar-se, ouvir, entender e mostrar o que é local?

Nestes acessos de xenofobia, esquecem várias coisas importantes: que este filme não é uma encomenda da CML, mas um projecto do próprio realizador; que o filme é uma produção em grande parte portuguesa, tal como todos os seus colaboradores e intervenientes; que Carlos Saura é reconhecido em todo o mundo e pode dar a este filme uma projecção muito maior que qualquer realizador português.

E ignoram ainda: (1) que um documentário não é um instrumento de propaganda; (2) que, num filme, o realizador é quem faz toda a diferença (um filme não pode ser feito por outro realizador sem ser totalmente outro filme). Revelam uma visão estreita e dirigista da cultura.

DN Online: Lisboa chumba filme de Saura sobre o fado
DN Online: Lisboa aprova apoio a filme de Saura sobre fado

15 janeiro 2006

Boom



O extraordinário incremento de visitas a este blogue nos passados dias 12 e 13.

13 janeiro 2006

As melhores sondagens aqui


Fonte: DN-TSF-Marktest – 13-01-2006
Dados brutos: Cavaco: 44,4; Alegre: 12,2; Soares: 10; Louçã: 6,1; Jerónimo: 4,1; Branco: 4,1; Não sabe/não responde: 15; Não vota: 2.
Excluindo os que não vão votar (2%), as percentagens redistribuem-se como mostra o gráfico acima.
Os candidatos de esquerda somam 38%, contra Cavaco com 47%.
Ainda há 15% de indecisos (Não sabe/ Não responde).
Para ganhar, Cavaco precisa de 50% mais 1 voto.
Mas os 4% de brancos também comem na percentagem total de Cavaco.
Custa-me perceber como pode a abstenção ser tão baixa. (Os abstencionistas não o confessam?)
Serão os indecisos potenciais abstencionistas? Os valores de "estimativa" apresentados nos jornais, que dão maioria absoluta a Cavaco, partem do príncípio de sim - apenas considerando as intenções de voto expressas.

Documentário de campanha


Cavaco enquanto engole um sapo chamado Santana Lopes
E ainda:
Cavaco em queda
Sondagens e manipulação


12 janeiro 2006

O mistério das sondagens



Ando há dias a moer uma pergunta muito simples: porquê divulgar projecções eleitorais, em vez de dar os números da sondagem propriamente? A sondagem do Público de sábado passado (9 Jan.06) que, na primeira página dá 60% a Cavaco, vê-se depois que é uma estimativa e que, nas intenções directas de voto, ele só tem 38%, enquanto MS e MA não chegam aos 10% cada, JS e FL têm juntos 7% e há 23% de indecisos (presumivelmente de esquerda). Fazendo umas contas mágicas que o eleitor comum jamais há-de compreender, lá distribuem – proporcionalmente ou com outro critério mais complicado - os 36% que sobram (indecisos, abstencionistas, brancos e nulos) e dá aquela aberrante estimativa que pode ser vista como pura manipulação.

A VERDADE é que Cavaco só tem 38 ou 39%, está longe da maioria. A soma das intenções de voto expressas em candidatos de esquerda soma 25%. Há 23% de indecisos (Não sabe/ Não responde). Com base nesses valores, fiz o gráfico acima.

Por que é que os jornais não apresentam em manchete: “23% de indecisos”? Porque ignoram os indicativos de abstenção? (Mas 12 % parece-me pouco.) Por que não informam didacticamente sobre a diferença entre uma sondagem e uma estimativa? Ou sobre a diferença qualitativa entre uma sondagem aleatória e outra por quotas. Eu bem gostava de ser elucidada sobre isso. Não considero que “isso” sejam contas para além da compreensão do mortal dos eleitores. (A estatística é ensinada no ensino básico obrigatório.)

No entanto, ao consultar o blogue Margens de erro, dinamizado por um especialista de sondagens da Universidade Católica, sou confrontada com a dificuldade de apreender todas as explicação dos termos técnicos. E continuo na ignorância sobre a explicação fundamental acerca dessas opções técnicas. Este blogue que, dizem, todos os políticos consultam avidamente, pois compara os resultados das diversas e sucessivas sondagens, é um site só para especialistas e fanáticos: mais interessados em discutir a margens de erro de uma técnica ou de outra, as suas vantagens relativas, as suas variações na estimativa, como num jogo de apostas e pontuações, ou numa corrida de aficcionados. Em suma, um exercício de adivinhação.

Ali não encontro qualquer esclarecimento capaz de satisfazer o eleitor comum. Nos sites dos candidatos, não vejo nenhuma versão contraditória dos factos das sondagens. Nos jornais, encontro sensacionalismo e preversão dos números. No DN esta semana, uma sondagem actualizada todos os dias pretende demonstrar a evolução dia-a-dia das tendências do voto, como se fosse um campeonato, ou uma volta a Portugal em bicicleta. Este empolamento não passa de uma falácia para criar suspense e vender jornais.

Na realidade, há quatro campanhas eleitorais em concorrência: a pré-campanha, a campanha formal, a campanha dos media e a campanha das sondagens. Todas pretendem influenciar – não se sabe bem com que efeito – as reais intenções de voto dos leitores, ouvintes e espectadores. Seremos nós marionetas wireless?

09 janeiro 2006

A pequena política



O que é a política? É a regulação das actividades humanas no interesse dos grupos sociais.

O que é o amiguismo? É uma forma de associação pela qual os indivíduos se sentem seguros e apoiados na sua rede de amigos.

O que é uma capelinha (também chamada lobby)? É quando um grupo de amigos resolve fazer política contra outro grupo, por razões de manutenção das suas redes de sustento, influência e poder.

A pequena política – à semelhança da grande – funciona por grupos de interesses, tendo como fundamento a necessidade de sobrevivência, isto é, o acesso ao trabalho, ao salário e à realização pessoal.

No campo da cultura, a formação de lobbies, mais do que fundada em razões económicas ou ideológicas, como noutras áreas políticas, autojustifica-se pelos factores do gosto e do prestígio. É a política do gosto.

O que é a subpolítica? É quando a pequena política se torna rasteira e incontrolável. Quando os dirigentes dos centros culturais e dos teatros sabem pelo jornais que foram demitidos, porque a fuga de informações é mais rápida que qualquer procedimento político. Isso também já aconteceu noutras áreas. Há uma entropia crescente na política que apanha todos desprevenidos. Parece uma coscuvilhice de aldeia. Ou como diria um antigo ministro, um fenómeno de endogamia.

Pode até chegar a ser caricato que – atrás de uma demissão antecipada e em defesa de grupos-de-amigos – se ergam vozes furiosas com recurso a argumentos estéticos e ao ataque pessoal. Misturando alhos com bugalhos, o lobby faz pressão para conseguir os seus intentos. Mas os critérios do gosto são um véu opaco que escurece a situação - onde o que está em jogo são questões de redes de influência. É melhor chamar as coisas pelo seu nome do que chamar nomes às pessoas.

A polémica que nasceu - da anunciada substituição de António Lagarto por Carlos Fragateiro no Teatro Nacional D. Maria II - é politicamente confusa. Em sintonia com uma interpelação parlamentar do PSD à ministra da cultura, levantam-se as vozes de esquerda contra o “populismo” do PS. Insultam-se os adversários com alegações de terem pertencido ao PCP e frequentado a RDA, em estranha relação genealógica com a FNAT de Salazar (Augusto M. Seabra); ou usam-se oxímoros de choque que juntam os extremos do elitismo e do pimbismo: «Quim Barreiros no São Carlos» (Jorge Silva Melo).

Se eu fizesse um documentário sobre a pequena política, estas observações seriam o seu ponto de partida. Parecem os valores todos baralhados. Ou, no fundo, é tudo a mesma coisa?

Ver ainda: Google-notícias ; pesquisa de blogues; petição contra a ministra.

(Foto de Nuno Ferreira Santos no Público de 09-01-06)