16 janeiro 2006

A política pequena


A Câmara Municipal de Lisboa aprovou o apoio financeiro a um documentário de Carlos Saura sobre o fado, projecto que fará parte de uma trilogia de filmes sobre música urbana (com Flamenco de 1995 e Tango de 1998). O apoio, agora obtido com a abstenção da oposição, tinha antes sido recusado com os votos contra da mesma oposição, justificados por divergências quanto ao conteúdo do filme: não era o tema que estava em causa, mas a nacionalidade estrangeira do realizador.

Os vereadores da oposição - encarando o filme como uma obra de propaganda – “contestaram a escolha de um realizador espanhol”. Como se isso fosse um atentado ao espírito nacional que o fado representa? Como se um olhar estrangeiro não pudesse debruçar-se, ouvir, entender e mostrar o que é local?

Nestes acessos de xenofobia, esquecem várias coisas importantes: que este filme não é uma encomenda da CML, mas um projecto do próprio realizador; que o filme é uma produção em grande parte portuguesa, tal como todos os seus colaboradores e intervenientes; que Carlos Saura é reconhecido em todo o mundo e pode dar a este filme uma projecção muito maior que qualquer realizador português.

E ignoram ainda: (1) que um documentário não é um instrumento de propaganda; (2) que, num filme, o realizador é quem faz toda a diferença (um filme não pode ser feito por outro realizador sem ser totalmente outro filme). Revelam uma visão estreita e dirigista da cultura.

DN Online: Lisboa chumba filme de Saura sobre o fado
DN Online: Lisboa aprova apoio a filme de Saura sobre fado

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