13 novembro 2006

Moldar a imagem



Na Cinemateca, Jorge Molder expõe fotografias que fixam partes de fotogramas de filmes. Nessa operação de segunda ordem que é a criação de uma imagem a partir de outra, o fotógrafo olha os filmes como uma natureza cujos instantes ele agarra, tomando-os como imagens que já não se referem ao seu contexto fílmico (nem sequer iconicamente, pois são fragmentos eventualmente não reconhecíveis). Momentos, acções, aparições e atravessamentos cinematográficos – capturados em imagens que não têm nada que contar, nem sequer de onde vêm nem que significam. Partindo de uma apropriação da matéria pura de imagens alheias, o fotógrafo transforma-as em imagens absolutas - que se impõem per se na sua beleza e na sua força assignificante. «Não tem que me contar seja o que for» é o título da exposição, assim reforçando uma ideia de imagem que, liberta do seu referente, se torna abstracta e pode ser vista como objecto de arte autónomo - capaz de suscitar livres interpretações, memórias e sensações.

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2 comentários:

Hugo disse...

Podem não ter nada para contar, mas, de cada vez que passo pela Cinemateca, dou por mim a contemplá-las

Leonor Areal disse...

Nota: nem todas as imagens são alheias, mas acabam por quase se tornarem indistintas na referência que omitem.