Bem, Leonor, coisificar, separar para classificar… não é... não me parece bem. Uma obra plástica abstracta, uma escultura, todas as coisas, são elas próprias e a imagem das mesmas, não há separação, são ambas sujeito, e ambas geradas no momento, no instante em que aquele que as vê, as contempla. Não conheço nenhuma imagem que não possa ser lida como a representação de algo, um monstro marinho inventado num computador que não tenha vários referentes concretos, equivalências, seja reflexo e produção do grande sujeito sensível, comum a todos. Como no filme/retrato Jaime do António Reis, as imagens produzidas pelo Jaime e pelo António (a música e a vida do protagonista) surgem ao nosso entendimento como coisa própria e a imagem da coisa, como unidade.
Não sei se a imaginação literária está "em conflito com um mundo invadido por imagens feitas". A literatura na sua forma mais imagética - a poesia - é povoada de imagens, que têm as mesmas características das outras: imagens que geram (dão forma a) outras imagens, às quais associamos cheiros, sensações corporais; que remetem para coisas, situações vividas, experimentadas ou imaginadas.
Uma ideia solta: à semelhança do alfabeto, atingimos o fim das representações possíveis, todas as imagens já foram experimentadas, todos os enquadramentos, todas as leituras (como se percebe na história da fotografia).
Uma ideia aparentemente à margem da discussão: nem sei bem se uma imagem precisa ser representada para ter existência. Não é porque ainda não tenha sido escrito (ou lançado) o livro intitulado "crítica/ das imagens por criar", que o mesmo não tenha neste momento uma existência real e palpável, uma imagem (uma imagem sim, dois versos, um poema).
Parafraseando o Herberto Hélder, as imagens não são feitas de sentimentos e pensamentos, autores e críticos, mas de energia e do sentido dos seus ritmos. Muito havia para escavar aqui, mas andamos todos muito académicos.
Miguel Marques, 25-10-2006
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