«"Se o menino não for ao cinema, dou-lhe uma nota má!" - dirão os professores quando a Sétima Arte (num futuro próximo) entrar no domínio dos estudos escolares - por MARCEL DANY
Paris, Setembro.
Na aula, o professor disse:
- Aluno Martin: descreva os processos comparados da técnica do cómico de Molière e da de Charlie Chaplin.
O adolescente levantou-se na sua carteira e, de braços cruzados, sem uma hesitação desenvolveu o tema em três pontos.
- Muito bem! - concluiu o professor. - E agora, sr. Durand, fale-me da sugestão de Goethe nos filmes, já clássicos, "Os visitantes do Anoitecer", "A Ronda" e "Margarida da Noite".
Tais perguntas não são ainda habituais nos liceus, mas é fácil adivinhar que brevemente o serão.
O cinema começou por entrar timidamente na escola, como divertimento para os alunos mais jovens, sob a forma de desenhos animados e de "lição de coisas" sob a de documentário. Mas agora a sétima arte, tendo ao mesmo tempo um passado rico e curioso e um presente absorvente, terá um futuro um futuro prodigioso. Quem duvida que tomará um lugar oficial no ensino?
Não estamos perante uma fantasia. Um distinto professor do Liceu Voltaire, de Paris, o dr. Henri Angel, publicou há pouco um livro puramente pedagógico intitulado "Tratado de Iniciação Cinematográfica", com definições, esquemas e notas explicativas que põem o estudante ao corrente do essencial da técnica e da estética do filme. Ao lado das histórias da pintura e da música existe já a "História do Cinema", redigida com toda a seriedade científica.
No exame de bacharelato deste ano (o bacharelato em França corresponde ao diploma do ensino secundário e permite entrada no superior) um dos três temas propostos para a dissertação , prova de redacção francesa, foi o seguinte: "Um escritor contemporâneo afirma ser erro profundo adaptar um romance ao cinema. É dessa opinião?" (...)»
in jornal O Século, 13 de Setembro de 1956
Foto: Vidas sem Rumo (1956) de Manuel Guimarães
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