27 fevereiro 2006

A terra gira



O documentário O Céu Gira de Mercedes Álvarez é daqueles filmes que procuram representar o tempo - o tempo das quatro estações, o tempo da vida humana, o tempo dos antepassados e dos vindouros, o tempo dos instantes memoráveis e o tempo que não passa.

A realizadora regressa à aldeia onde nasceu (Aldealseñor, Soria, Espanha) e durante meses acompanha os seus escassos habitantes, filmando determinadamente a paisagem e a memória. O tempo do filme acompanha a passagem das estações do ano mas organiza-se como um passeio intemporal através da paisagem habitada, onde se cruzam pegadas de dinossauros, vestígios romanos, memórias de infância, moinhos de vento, colonos marroquinos, palácios e cemitérios abandonados, ecos de outras guerras.

É uma visão cosmogónica de densidade raramente conseguida, tingida de uma poesia trágica e escorada em verdades triviais e absolutas. Não há ali nostalgia nem sentimentalismo, há uma simplicidade crua e temperada do humor sábio dos velhos. A atenção demorada à paisagem - as pausas onde quase nada acontece, mas qualquer coisa tem um relevo enorme - opera pela rarefacção para atingir a concentração.

Tudo isto é dizer nada. Um filme destes, capaz de nos envolver como uma viagem no tempo, não é traduzível ou discutível. Cada um que o veja terá uma experiência única. Como já foi dito no Animatógrafo: « O resultado é um filme belíssimo e de uma simplicidade desarmante, quase natural nas suas formas. E, curioso, muito longe da imagem de auto-comiseração que grassa na ruralidade portuguesa.»

(Em exibição no King, em Lisboa.)

5 comentários:

Nuno Pires disse...

Dá muita vontade. Tenho de or ver.

Anónimo disse...

olá! queria dar os parabéns por ter sido escolhida para falar de blogues temáticos na almedina.

Anónimo disse...

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e uma tragédia para os que sentem"

Horace Walpole

Nuno Pires disse...

Vi este filme hoje... um encanto. Obrigado Leonor ;)

Sérgio A. Correia disse...

Adorei esta passagem, Leonor:
"É uma visão cosmogónica de densidade raramente conseguida, tingida de uma poesia trágica e escorada em verdades triviais e absolutas. Não há ali nostalgia nem sentimentalismo, há uma simplicidade crua e temperada do humor sábio dos velhos. A atenção demorada à paisagem - as pausas onde quase nada acontece, mas qualquer coisa tem um relevo enorme - opera pela rarefacção para atingir a concentração."