02 maio 2006

Retratos (austríacos)



Em State of the Nation (2002), Michael Glawogger faz um retrato colectivo que se compõe de retratos individuais e familiares. É uma espécie de inquérito pela Áustria em que ele regista o que as pessoas têm a dizer sobre: a família - o trabalho - os emigrantes - a segurança social - os impostos - a política, numa sequência causal através da qual faz um diagnóstico do renascimento do sentimento conservador e pró-fascista que levou Haider ao poder em 2000.

Ao ouvi-los falar da desintegração da família tradicional, das famílias imigrantes, da religião muçulmana, do desemprego, das escolhas políticas afectivas, entre a ignorância dos conceitos “conservador” e “liberal”, desenha-se um quadro de ideias-básicas em que o outro é visto como ameaça à identidade nacional. E onde é preponderante um desejo de restabelecimento da ordem: na família, na religião, nos costumes.

As frase típicas: “Não tenho nada contra os judeus, mas Hitler podia tê-los mandado embora sem ser daquela maneira...”; “Não tenho nada contra os muçulmanos, mas não gosto deles”. Se todos colaborassem, dizem, vigiando os outros e denunciando os que estão fora da lei às autoridades, resolvia-se tudo facilmente. O obrigatório-politicamente-correcto apenas esconde o seu reverso: um “gene” fascista.

O casal que, no plano final, discursa ininterruptamente começa por dizer mal de Bush, da sua estupidez, da sua ambição de dominar o mundo; logo derivam para o receio da ameaça islâmica e, pouco tempo depois, acabam a exprimir o seu desejo que fazer explodir todos os países que não lhes agradam! (Como é que a antropologia explica isto?)

P.S. Tive pena de não ver, deste autor, Megacities (1998) e Workingman’s Death (2005), que o blogue Ponte das 3 Entradas comenta desenvolvidamente: http://3entradas.blogspot.com/2006/04/sobre-workingmans-death-michael.html
http://3entradas.blogspot.com/2006/04/vastas-emoes-pensamentos-sempre.html
http://3entradas.blogspot.com/2006/04/olhar-o-mundo-algumas-reflexes.html

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