Comprei uma máquina fotográfica digital e passei a produzir cerca de mil fotos por mês. Faço o que sempre desejei fazer, mas não podia, ou porque saía caro, ou porque a máquina antiga pesava demais e não cabia nos bolsos. As imagens são a minha segunda natureza. Mas evito o excesso, porque sinto que os limites – exteriores ou interiores - é que permitem dar valor a uma imagem.
No verão passei uma semana sozinha numa aldeia do norte. Estive a filmar, mas estive, antes de mais, a viver e a perceber como filmar. Citadina por condição, nunca tinha percebido o que é viver e estar num sítio onde tudo se passa, não direi mais devagar, mas mais espaçadamente. Onde cada carro que vem ou vai, cada pessoa que sai de uma porta ou atravessa a rua, cada nuvem que passa, cada movimento, cada gesto, tem um tempo, um percurso, um espaço, um sentido, e tudo se integra, sem haver acumulações nem engarrafamentos, no todo orgânico da existência.
Passei a ver de outra forma, como fazem os aldeãos quando o nosso carro atravessa a sua aldeia, que nos olham desde que aparecemos à esquerda até que desaparecemos à direita do seu campo visual. Habituei-me também a seguir atentamente quem chega e quem parte. Apenas porque todos esses acontecimentos adquiriam imenso significado para a minha descoberta daquele lugar. Faziam parte da sua vida e tinham repercussões imediatas. Quando fosse ao café, alguém estaria a falar de quem ali esteve antes, do que contou e disse e quem era. Assim se constrói um mundo. A capacidade de contemplar uma acção na sua totalidade tornou-se ali o meu método de filmar. Aprendi a filmar pouco, mas a escolher melhor.
Sem comentários:
Enviar um comentário