12 setembro 2005

Proliferação



Fui ontem ao VideoLisboa no Fórum Lisboa. Numa sala de bar alinhavam-se até ao número 1013 os vídeos recebidos a concurso. Escolhi um dos vídeos à la carte: Fiction Artists, um filme alemão. Usando excertos de mais de uma centena de filmes (que vão de 1921 a 2000), os autores fazem uma súmula dos clichés que o cinema do século xx (sobretudo americano) criou sobre a imagem do artista: as cenas de quadros dilacerados, as modelos que se despem, a afirmação do artista como tal, os gestos de contemplação da tela, as menções de pintores, etc. Esta colecção sistemática de cenas fílmicas formam um documentário sobre as nossas imagens de referência colectiva, aqui tratadas com algum experimentalismo. Este legado de lugares-comuns, entre o detestável e o risível, faz-nos desejar que o século xxi nos ofereça outras imagens e se liberte daquela visão enlatada. É para o que serve este festival.

Na sala grande, pude ver uma dúzia de filmes, todos bem diferentes e de interesse desigual. A tarefa de seleccionar os filmes deve ser gigantesca e insana. Estabelecer linhas e critérios de selecção parece um quebra-cabeças. A lógica de programação em sequência das curtas-metragens não deve ser fácil, mas não resulta evidente.

Nas sessões das 17h e das 18h30 havia 20-espectadores-20. A desproporção entre este número e o das cassetes enviadas dá que pensar. Há mais gente a exprimir-se por meio do vídeo que espectadores para essa proliferação de visões, quase tão vasta como a dos blogs. Só que, enquanto estes escrevem para uma corte de amigos, aqueles atravessam os ares dentro de uma cassete em busca de um festival noutro canto do mundo.

Sem comentários: