23 abril 2006

Lisboetas



Lisboetas, documentário de Sérgio Tréfaut cujo título programático afirma, contra o senso comum, que os imigrantes em Lisboa são lisboetas, apresenta-nos vários estrangeiros que juntos compõem um retrato desta cidade, eterna encruzilhada de culturas. Mas são as circunstâncias de vida que os definem como figuras da migração universal.

O contexto revela-se na sucessão das cenas: uma situação de trabalho, o telefonema para a família longínqua, o balcão das legalizações, a mercado negro do emprego, a venda ambulante de rosas, a aula de português, o apoio médico, os espaços de culto religioso, as danças nocturnas, as crianças... O que torna este filme tocante é a opção por mostrar situações em que as pessoas se encontram em circunstâncias de grande vulnerabilidade.

Em cada cena conhecemos uma personagem cuja presença, intensificada por uma atenção exclusiva, depois se dilui no conjunto dos passantes anónimos, desenhando um retrato colectivo do processo de integração. A câmara concentra-se nos rostos, centros de um mundo inóspito e desconhecido, situado fora de campo. Uma rádio local dá informações em russo sobre a vida dos imigrantes.

É um filme que, civicamente, nos ensina a olhar para o Outro como um Mesmo. E insinua, politicamente, uma leitura ácida da realidade do trabalho ilegal. O filme demonstra, de início até à cena comovente do parto final, que Eles vieram para ficar, como Nós. É um filme tão belo que só visto.

(Em exibição no Nimas, em Lisboa, e no Teatro do Campo Alegre, no Porto)

1 comentário:

Nuno Pires disse...

Estava à procura do filme nos cinemas e não o encontrava... Pois só olhava para os cinemas com a King Kard! Irei ao Nimas então. É um filme que TENHO de ver. Obrigado ;)