30 setembro 2005

A não-inscrição

Ainda estou chocada por o meu documentário não ter sido aceite no DocLisboa, apesar de terem passado umas semanas desde que o soube. Não julgo que o meu filme fosse melhor que os demais escolhidos, mas creio que a sua oportunidade hic et nunc seria a melhor razão para não ter sido posto de lado. Foi uma oportunidade perdida para que um público alargado e heterogéneo pudesse ver e reflectir sobre um assunto de que se fala tanto desde há meses: a educação sexual nas escolas. Que o comité de selecção tenha descartado este filme, parece-me um erro enorme e uma injustiça – para com o público.

Não quero mostrar o meu filme por afirmação pessoal. Para mim, fazer documentários é um acto altruísta dirigido aos outros com interesse e dedicação. Os 50 ou 60 realizadores cujos filmes foram rejeitados sentirão possivelmente o mesmo. Mas não posso eu falar por eles. Nem posso sequer comparar-me aos que foram seleccionados. Quando se faz um filme, acredita-se nele. Se não se acreditasse, não seria possível arrostar as sucessivas dificuldades e esforços a que ele obriga. E ele obriga-me a defendê-lo até que outros o possam ver.

Nada no meu trabalho é arbitrário (embora beneficie às vezes de algumas casualidades). Pesquisei e escrevi várias vezes este projecto de filme, fui a dois concursos do ICAM, concorri a pitchings e instituições, filmei por iniciativa própria, ganhei um apoio financeiro, prestei contas rigorosas e falta-me mostrar o que fiz. Quem deve julgar é o público, não uns iluminados por ele.
Assim, considero que o trabalho de um júri de pré-selecção - que nem sequer se assume nominalmente – também não pode ser arbitrário. Deve ser justificado e público. Porque é muito maior a responsabilidade de excluir filmes que a de premiá-los entre uma dúzia de escolhidos.

A pergunta “para onde vai o documentário português?”, que intitula a secção de filmes portugueses do DocLisboa, soa-me retórica ou pretensiosa. Que suposto rumo é esse que será dado a ver? Que critérios orientaram uma selecção tão estreita e justificaram a exclusão dos demais filmes? Um critério de representatividade? Um critério estético? Político? Subjectivo? Quem definiu e ponderou sobre os caminhos do documentário actual? A direcção do festival e os seleccionadores nacionais têm a obrigação de justificar as suas opções perante o público e os financiadores públicos.

Afortunadamente, a mesma Apordoc (que organiza o DocLisboa) teve a iniciativa de criar uma outra mostra de documentário nacional – o Panorama – que promete no mínimo mostrar o refugo do DocLisboa. Muitos filmes poderão sair da invisibilidade, que é o seu maior drama. Porque o objectivo primeiro de qualquer filme é ser visto.

Recebi entretanto avisos sobre as inscrições para o Panorama, um deles dirigido nominalmente e pedindo-me filmes específicos de acordo com as informações disponíveis no ICAM. Só estranhei duas coisas. Primeiro: se lá na Apordoc já têm cassetes de 2 filmes meus recusados nos DocLisboas, terei que enviá-los de novo? Segundo: porque é que um convite individualizado não vem assinado? Quem se responsabilizará pela próxima selecção? Quem não prestará contas? Quem dirige? Os mesmos, outros? Não se sabe, visto que não se assinam, o que eu acho extraordinário. Tratam-se a si mesmos como instituição ou escondem-se atrás dela?

1 comentário:

Anónimo disse...

muito reservadamente, acho bem, Dr.N