Uma instalação-vídeo no Museu do Chiado mostra em simultâneo nas quatro paredes de uma sala vários filmes de William Kentridge, suponho que concebidos para esta disposição dispersa, mas igualmente válidos como objectos fílmicos per se.
Sob o efeito caleidoscópio de circular os olhos pelos vários filmes ao mesmo tempo, o visitante procura seguir, apesar de tudo com alguma aflição, a sequência de cada filme que, em loop, recomeça incessantemente e nos permite recuperar o momento que perdemos quando olhámos para o do lado.
São filmes de um ilusionista. Onde o autor se representa, por exemplo, a apagar um desenho, a folhear livros que voam, ou a reconstruir auto-retratos, usando a técnica de inverter o movimento da fita. Desenhos que, mal acabados de fazer, habitam o espaço do quotidiano. Objectos do quotidiano que invadem o espaço dos sonhos. Sonhos que habitam a intranquilidade do artista.Filmes que falam apenas do trabalho do autor, situados no universo do seu atelier e das suas fantasias. Este delírio auto-reflexivo sobre o trabalho e a própria identidade dentro da obra, aparece-nos em variações paradoxais sobre diferentes técnicas - mixed media - num jogo que ultrapassa o formalismo e se torna pura poesia e ilusão.
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