21 outubro 2005

Le départ de Depardon



O último filme de Raymond Depardon, Profils Paysans: le Quotidien (visto no DocLisboa), demora a começar. Durante uma meia hora (psicológica), ele interroga alguns velhos camponeses que não estão manifestamente inclinados para desenvolver o tema que ao realizador interessa - o abandono dos campos e das aldeias, o envelhecimento da população e seu isolamento. Estes anciãos pouco têm para contar além de um certo desânimo da idade. O realizador, qual repórter sem imaginação, insiste no seu inquérito elementar: há quanto anos ali vive e trabalha, quantas pessoas ainda lá estão, se trabalha mais agora que dantes, etc. Em troca recebe algumas respostas desconcertantes: "Quando você tiver 85 anos também vai fazer menos fotografias e filmes que agora".

O filme só começa a tornar-se interessante quando chega aos diálogos: entre os agricultores na feira, ou depois na quinta que um casal procura vender - para poderem obter a reforma - a um outro casal jovem que pretende obter um empréstimo bancário. Aqui, então, com toda a autenticidade, desenha-se um quadro actual da vida rural, da mudança de práticas e perspectivas de vida entre uma e outra geração. Mas o pressuposto inicial (o do envelhecimento e abandono dos campos) parece desmontar-se. Afinal, há pouca gente no campo, mas há renovação.

O monólogo vigoroso da rapariga de 22 anos, que com o marido comprou uma quinta em ruínas, é mais eloquente que os monossílabos cansados dos pastores. Ela conta como teve o seu bebé, como reconstruíram a casa, mas fala sobretudo das vicissitudes da criação de cabras durante o inverno. O outro casal de quinquagenários, entretanto reformados, está feliz por já não viver no stress de acordar às 5h30 da manhã ou de ter que limpar a neve para chegar ao estábulo e dar de comer aos animais. Aqui o filme tomou um rumo e as perguntas do realizador deixaram de ser relevantes: finalmente encontrou personagens com voz.

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